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Cristina rejeita denúncia de Nisman e relaciona sua morte com caso Amia

26/01/2015 23h55

Buenos Aires, 26 jan (EFE).- A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, afirmou nesta segunda-feira que a denúncia do promotor Alberto Nisman contra ela não tem "fundamento" e considerou que sua morte está vinculada com o atentado contra a Amia e os antecedentes do memorando de entendimento assinado com o Irã.

"Essa denúncia, sem nenhum fundamento, e a morte do promotor Nisman estão diretamente vinculadas com o antecedente do memorando de entendimento assinado com o Irã e com o atentado contra a Amia", disse a presidente em mensagem ao país transmitida por rede nacional.

"Parece que, na realidade, ninguém queria que se averiguasse a fundo ou que se interrogasse alguém", opinou Cristina sobre o caso do atentado contra a associação mutual israelita que deixou 85 mortos em 1994.

A denúncia de Nisman é "descabelada", tem "argumentos absurdos" e nenhum especialista "pode acreditar que isso foi escrito por um advogado, muito menos por um promotor", afirmou.

"Ninguém pode achar que alguém possa cometer um crime ao assinar um tratado internacional aprovado pelo Congresso", insistiu.

A governante desmontou os argumentos da denúncia do promotor, desde o depoimento do ex-chefe de Interpol confirmando que os "alertas vermelhos" contra os acusados iranianos se mantêm em vigor, até a queda do comércio com o Irã a partir de 2010, que foi acentuada após a assinatura do acordo de entendimento.

Além disso, disse, "nunca compramos petróleo do Irã porque o petróleo iraniano não serve para ser tratado na Argentina pelos componentes que tem".

"São dados que estão disponíveis para qualquer um, dados públicos e bastaria ter visto isso para não incorrer em erros tão grosseiros", acrescentou.

"O atentado aconteceu há 20 anos e alguém insinuou, com uma denúncia sem fundamentos, que queríamos desviar a atenção e acobertar os iranianos pela venda de grãos", acrescentou a presidente. Além disso, lembrou que as empresas que vendem para o Irã são, em sua maioria, multinacionais e "ninguém pode pensar que alguma delas é, precisamente, amiga do governo".

"Seguimos como estávamos em 2003, queremos saber e para isso necessitamos fazer um interrogatório e precisamos da cooperação judicial que reivindicamos ao Irã durante anos, e quando se assina um memorando de entendimento, a Justiça argentina, devido a pressões de promotores e juízes, o declara inconstitucional e nada é resolvido", continuou.

Após a assinatura do acordo "tínhamos dado um salto qualitativo muito grande e soltaram todos os demônios". "Hoje, ainda não há um único detido, nem um condenado", denunciou Cristina.

A presidente garantiu que soube da morte do promotor na madrugada da última segunda-feira, através da ministra de Segurança, María Cecilia Rodríguez, e apresentou novas informações sobre a figura de Diego Lagomarsino, o colaborador de Nisman que lhe deu a arma que acabou com sua vida e que é até agora o único acusado.

Um especialista em informática contratado por Nisman que a presidente definiu como um "feroz opositor do governo" e que tentou renovar seu passaporte no último dia 14, o mesmo dia em que o promotor apresentou a denúncia contra ela.

Cristina denunciou que informações cruciais estão sendo omitidas, pois "não interessa atacar e perseguir a corrupção", mas "atacar e perseguir o governo".

"Não vão me extorquir, não vão me intimidar", destacou a presidente, que acrescentou: "Eu não tenho medo. Podem dizer o que quiserem, podem fazer o que quiserem, que os juízes me intimem, que os promotores me denunciem".

"Não vão me fazer mudar o que sempre pensei. Não se pode seguir conduzindo a República Argentina desse jeito. É necessária também uma reforma do Poder Judiciário", reivindicou.

"Talvez, tudo o que aconteceu constitua o Fio de Ariadne que nos permita dar uma resposta para as 85 vítimas e seus familiares", afirmou.