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Yanukovich quer voltar à Ucrânia para liderar movimento de protesto

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Em Moscou

21/02/2015 12h20

O ex-presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, deposto há um ano e refugiado desde então na Rússia, disse neste sábado que quer voltar a seu país "para primeiro liderar um movimento de protestos e depois participar da defesa da população".

"Assim que tenha a possibilidade, voltarei e farei tudo o que esteja em minhas mãos para aliviar a situação na Ucrânia", disse Yanukovich, de 64 anos, em entrevista ao "Canal Um" da televisão russa.

Amanhã se completa um ano desde que Yanukovich foi deposto de seu cargo pelo parlamento ucraniano, que, ao constatar que tinha fugido de Kiev na madrugada de 22 de fevereiro, demorou poucas horas para acusá-lo de abandono de funções.

"O poder não merece os custos que a Ucrânia sofreu após os eventos de 21 e 22 de fevereiro de 2014. Hoje o país está destruído. Perdas territoriais, vítimas humanas, regiões inteiras destruídas", lamentou Yanukovich.

O resultado da reviravolta de poder na qual se cristalizaram três meses de protestos populares e os sangrentos distúrbios de 18 a 20 de fevereiro em Kiev foi, segundo Yanukovich, a guerra no leste do país, "a arbitrariedade e a injustiça que reinam agora na Ucrânia".

Em outra entrevista transmitida hoje pela televisão russa, o ex-líder ucraniano pediu às novas autoridades do país que "deixem de humilhar à população do leste da Ucrânia" e que "garantam a autonomia" das regiões orientais.

"Não há outro caminho" que a negociação direta entre as autoridades ucranianas e as autoproclamadas repúblicas popular de Donetsk e Lugansk, disse Yanukovich em entrevista ao canal estatal "Rossia".

O ex-presidente ucraniano, refugiado há um ano na Rússia, acusou Kiev de discriminar à população que vive nos territórios do leste controlados pelas milícias separatistas.

"Como é possível privar as pessoas das garantias sociais garantidas pela Constituição?", se perguntou em alusão ao bloqueio econômico imposto por Kiev às áreas rebeldes, cuja população está há meses sem receber pensões ou outros benefícios sociais.

Yanukovich ressaltou ainda que os dois lados enfrentados devem "avançar passo a passo para recuperar a confiança" perdida, um processo no qual, segundo o ex-presidente, "devem participar necessariamente os países europeus e a Rússia".

"Morreu muita gente, muitos foram humilhados. E, para poder recuperar um nível de confiança que nos permita viver juntos, é preciso tempo", concluiu.

A Interpol emitiu uma ordem de busca internacional contra o ex-presidente ucraniano por uma série de delitos financeiros pelos quais é acusado em seu país, entre eles apropriação indevida e desvio de fundos públicos.

Além disso, pouco depois que uma centena de pessoas morreram há um ano nos distúrbios de Kiev, as novas autoridades do país pediram ao Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, que o processasse por crimes contra a humanidade por sua responsabilidade na repressão das manifestações.