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Protestos lembram estudantes quando completam 5 meses de seu desaparecimento

Manifestações vem ocorrendo a cada dia 26 nos últimos cinco meses - Eduardo Verdugo/AP
Manifestações vem ocorrendo a cada dia 26 nos últimos cinco meses Imagem: Eduardo Verdugo/AP

Na Cidade do México

27/02/2015 02h27

Milhares de cidadãos se manifestaram nesta quinta-feira (26) para exigir justiça e verdade pelo desaparecimento de 43 estudantes no México, conforme vem ocorrendo a cada dia 26 nos últimos cinco meses, em um caso pelo qual continuam ocorrendo detenções, apesar de o governo mexicano já ter apresentado suas conclusões.

Com as ruas de várias cidades cheias, a Comissão Nacional de Segurança (CNS) informou hoje em comunicado a detenção de um ex-policial de Iguala, que teria participado do assassinato do estudante Julio César Mondragón, encontrado morto no dia 27 de setembro com o rosto desfigurado.

O detido, identificado como Luis Francisco Martínez, teria participado também no ataque contra o ônibus em que viajava o time de futebol infantil dos Avispones, um incidente que resultou na morte de uma criança, além do motorista e da passageira de um táxi que passava por perto.

Um total de seis pessoas morreram nos ataques policiais cometidos na noite de 26 de setembro em Iguala, no estado de Guerrero, as três mencionadas e outros três estudantes de magistério da Escola Normal de Ayotzinapa.

Mondragón, companheiro dos 43 estudantes que desapareceram naquela noite, foi encontrado no dia seguinte e o esclarecimento de sua morte era uma das principais exigências dos pais, que não acreditam na versão oficial.

Segundo esta, os jovens foram sequestrados e entregues por policiais locais a membros do cartel de narcotraficantes Guerreros Unidos, que os assassinaram e incineraram seus corpos em um lixão do município vizinho de Cocula.

Por esse caso, cerca 100 pessoas estão detidas, a maioria ex-servidores públicos como o então prefeito de Iguala, José Luis Abarca, e sua esposa, que trabalhavam sob as ordens do tráfico.

O procurador-geral do México, Jesús Murillo, afirmou em seu último pronunciamento sobre o caso que tinha "provas científicas" suficientes para garantir que os jovens estão mortos. No entanto, várias organizações questionaram as afirmações de Murillo, entre elas os peritos argentinos que colaboram na investigação a pedido dos pais.

Especialistas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) visitarão o México no próximo mês para averiguar possíveis irregularidades nas investigações.

Os pais voltaram hoje a participar de uma grande manifestação na capital mexicana, que partiu do monumento 'Ángel de la Independencia', no centro da cidade, rumo à residência presidencial de Los Pinos.

Lá foi realizado um comício no qual os familiares dos estudantes exigiram - mais uma vez - que os mesmos sejam encontrados com vida e a renúncia do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto.

"Seguiremos com a cabeça em pé, com dignidade e lutando incansavelmente, não daremos nem um passo atrás, apesar da repressão que sofremos e do Exército, que nos assedia em Guerrero", defendeu o advogado dos pais, Vidulfo Rosales.

Em declarações à Agência Efe, Rosales afirmou que "a Procuradoria está tentando estabelecer o fechamento do caso", apesar das "muitas lacunas que devem ser esclarecidas".

Mesmo assim, reconheceu que ainda existe a esperança de que a investigação continue com a chegada da CIDH ao México, no dia 1º de março.

Mario, pai de um dos estudantes desaparecidos, se referiu à repressão policial em uma manifestação de milhares de professores realizada no porto de Acapulco na última terça-feira, na qual morreu uma pessoa e mais de dez ficaram feridas.

"Estamos aprendendo que tipo de governo nós temos. Vimos tudo o que ele é capaz de fazer", comentou.

A maioria dos manifestantes eram membros da Coordenadora Estadual de Trabalhadores da Educação de Guerrero (Ceteg), que se uniram à luta pelo caso dos 43 desaparecidos.

Em um comício realizado hoje em Acapulco, exigiram que o governo "investigue e puna" os responsáveis pela morte do professor aposentado Claudio Castillo, de 65 anos, que "é um exemplo de luta a ser seguido", disse um dos porta-vozes dos professores.

Segundo o governo federal, Castillo morreu por decorrência de um atropelamento, mas os professores estão convencidos que sua morte foi causada pelas agressões de policiais federais.

Além disso, os professores denunciaram o desaparecimento de 12 de seus companheiros e o estupro de quatro mulheres após os enfrentamentos daquela noite.