Topo

Uribe defende concentrar Farc em uma zona do país durante processo de paz

02/03/2015 14h48

Jaime Ortega Carrascal.

Bogotá, 2 mar (EFE).- O ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe defendeu concentrar os guerrilheiros das Farc em uma zona do país sob supervisão da comunidade internacional enquanto transcorre o diálogo de paz em Cuba, o que para ele ajudaria a acabar com a violência, protegeria a democracia e evitaria um "acordo ruim".

"Caso se necessite muito tempo para conseguir acordos que não afetem a democracia colombiana, que não afetem a empresa privada, nós não nos opomos a que os diálogos se prolonguem indefinidamente com uma condição, que arranquem da Colômbia o pesadelo da violência", disse em entrevista para a Agência Efe.

Essa condição, acrescentou o hoje senador, é "que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) aceitem concentrar todas suas estruturas terroristas em um lugar e que esse lugar seja supervisionado pela comunidade internacional".

"Se isso ocorrer, que o diálogo se estenda tanto quanto for necessário", porque "é melhor não assinar um acordo do que assinar um acordo ruim", afirmou o líder do Partido Centro Democrático.

Além disso, Uribe disse que é preciso urgentemente acabar com o pesadelo da violência gerada pelo conflito e "paciência para não assinar pactos com as Farc que prejudiquem a democracia colombiana".

O governo e as Farc negociam desde novembro de 2012 um acordo para pôr fim a meio século de conflito armado.

O presidente Juan Manuel Santos acredita ser possível fechar neste ano o acordo, para que no final de seu governo, em 2018, o país viva um ambiente de paz, segundo antecipou recentemente em entrevista para a Efe.

Uribe lamentou que Santos, de quem foi seu ministro da Defesa, não tenha mantido a "política de segurança democrática" que foi a base de seu governo, porque, em sua opinião, isso levou ao rearmamento da guerrilha, a deterioração da segurança, a desmotivação das Forças Armadas e a diminuição da confiança investidora.

"Acho que o país vai por um mau caminho", ressaltou ao ser perguntado sobre os riscos do processo de paz. Uribe disse por várias vezes que o atual presidente está entregando a Colômbia ao "castro-chavismo".

Segundo Uribe, "há muito perigo" que isso ocorra. O ex-presidente, no entanto, disse não acreditar que a Colômbia "vá chegar a uma situação econômica como a da Venezuela ou a de Cuba, porque este país tem um setor empresarial mais forte, mas (a política do governo) faz a empresa privada crescer o mínimo".

"Uma de nossas diferenças com o governo Santos é que Santos, quando era ministro-candidato, era a voz mais crítica do continente contra o castro-chavismo e, agora, por fraqueza com as Farc, se transformou no maior validador das atrocidades da ditadura chavista da Venezuela de Nicolás Maduro", argumentou.

"Nos preocupa muito que se abra a possibilidade de se considerar o sequestro, o narcotráfico, o recrutamento de menores crimes políticos, e os grandes responsáveis não vão para a prisão e sim para o Congresso", questionou.

Em sua recente entrevista à Efe, Santos se mostrou partidário de "construir pontes" com seu agora adversário político, e disse que estaria disposto a escutar suas preocupações.

Uribe, no entanto, só aceitou fazer isso por meio de terceiros, e escolheu o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan para entregar uma lista de pedidos para Juan Manuel Santos.