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Consumidores de maconha no Uruguai ainda resistem ao registro obrigatório

Em Montevidéu

25/03/2015 17h14

Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (25) em Montevidéu mostrou que 39% dos consumidores frequentes de maconha no Uruguai não realizarão a inscrição obrigatória para o consumo da substância ou "provavelmente" não o farão.

A lei no Uruguai estabelece a obrigatoriedade de registro no IRCCA (Instituto de Regulação e Controle da Cannabis) para quem quiser cultivar maconha em casa, nos chamados clubes canábicos, para os compradores do produto em circuito legal, para as farmácias que comercializarem a droga e para as empresas que a produzirão de forma industrial.

No relatório, elaborado pela Universidad Católica do Uruguai e pela Universidade Internacional da Flórida (EUA), 19% dos consumidores declararam que "certamente não" se registrarão, e um 20% afirmaram que "provavelmente não".

Já 31% afirmram que "certamente" se registrarão, 27% que "provavelmente sim", 1% disse já estar registrado e 2% que ainda não sabem o que farão.

A responsável pelo estudo na Universidad Católica, Rosario Queirolo, destacou que a proporção de pessoas resistentes ao registro é "significativa", e um dado que evidencia que o governo ainda tem muito a fazer.

"Há um porcentagem significativa que não quer se registrar e muitas de suas razões são porque não veem benefícios no registro", disse Rosario à Agência Efe.

Rosario indicou que um dos motivos é os consumidores não confiarem em que o registro será "efetivamente anônimo" e pensam que em algum momento poderão ser punidos pelo Estado, que teria seus dados.

Ela lembrou que a lei obriga o consumidor a se registrar como autocultivador, como membro de um clube de cannabis ou como consumidor que compra em farmácias e, nesse sentido, "o estudo reflete que muitos usam mais de uma das três vias".

"O governo tem muito a trabalhar para se comunicar e informar sobre o registro e suas modalidades se quer que esta lei avance", concluiu Rosario.

O estudo, intitulado 'Regulação do mercado de maconha. Evidência desde o Uruguai às Américas'," busca construir uma linha de base com dados para depois avaliar a lei de regulação do mercado da maconha", explicou Rosario.

O documento apresentado hoje também se voltou aos resultados do Barômetro das Américas de 2014, que indicaram que "mais da metade dos uruguaios" é contra a legalização da maconha, "apesar da aparente fluência com que a lei foi aprovada".

Esses resultados mostraram que 34% dos uruguaios é a favor da lei e 60,7% contra.

Analisando estes dados, o relatório concluiu que "a popularidade" do ex-presidente José Mujica (2010-2015) teve muita influência para que a lei fosse aprovada "com aparente facilidade".

Rosario acrescentou que, embora a maioria dos uruguaios esteja contra a lei, não é um tema que tenha muita relevância na opinião pública.

Os uruguaios "não sentem que (a lei) tenha grandes implicações e por isso a oposição não é tão grande ou não se manifestou de maneira pública com muita força", declarou.

O estudo também refletiu os hábitos de consumo de maconha dos uruguaios e tentou estabelecer as características próprias do segmento da população que declara fazer uso da substância.

Com base nos resultados obtidos, o perfil do consumidor seria o de um homem jovem, que vive em Montevidéu, tem renda alta, é de esquerda e pouco religioso.

A nova legislação, aprovada no final de 2013 pelo parlamento, permite aos consumidores adquirirem até no máximo 40 gramas por mês ou cultivar em casa até seis plantas, ou em clubes com entre 15 e 45 membros até 99 plantas, nestes dois últimos casos para um consumo máximo de 480 gramas ao ano por pessoa.