Topo

Portugal lembra Revolução dos Cravos com atenções já voltadas para eleições

25/04/2015 16h08

Óscar Tomasi.

Lisboa, 25 abr (EFE).- No dia em que se completam 41 anos da famosa Revolução dos Cravos, Portugal celebrou a data sem grandes festejos, apesar do moderado otimismo gerado no país por sua recuperação econômica, e com as atenções já voltadas para as eleições.

O dia esteve marcado pelo discurso do chefe do Estado, o conservador Aníbal Cavaco Silva, que criticou o ambiente de tensão política e repreendeu os partidos por sua incapacidade para alcançar consensos, o que não repercutiu bem entre a esquerda.

Na rua, milhares de pessoas desfilaram por algumas das principais cidades portuguesas com os tradicionais cravos vermelhos para rememorar o golpe de Estado que acabou, de um dia para outro e sem aviso prévio, com uma ditadura que se prolongava há 48 anos e que abriu passagem para a chegada da democracia.

Durante seu último discurso como presidente em um 25 de abril - seu mandato expira em 2016 e ele não pode concorrer à reeleição -, Cavaco Silva pediu aos políticos que trabalhem para recuperar a credibilidade da população e lhes instou a aprovar medidas firmes em matéria de combate à corrupção.

O chefe de Estado se referiu assim ao assunto do momento em Portugal, onde em questão de meses explodiram vários escândalos de grandes proporções, entre eles a detenção do ex-primeiro-ministro socialista, José Sócrates, e a queda do Grupo Espírito Santo.

"Após quatro décadas de democracia, os agentes políticos devem entender de uma vez por todas que os portugueses não se identificam com formas de atuação que aumentam a tensão e que colocam os interesses partidários acima do interesse nacional", comentou.

Presidente do país desde 2006, Cavaco Silva lamentou que a discussão sobre a reforma do Estado também tenha caído "no terreno do combate ideológico" e citou entre os principais desafios do país a melhora das taxas de natalidade e o retorno dos milhares de jovens altamente qualificados que decidiram emigrar perante a falta de oportunidades.

Cavaco Silva destacou ainda que Portugal foi capaz de cumprir o "exigente" programa de assistência financeira estipulado com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional em troca de seu resgate (2011-2014) e assegurou estar convencido que o país vive agora "uma nova fase" além das dificuldades, entre as quais ressaltou o elevado desemprego e a precariedade.

Problemas que afetam especialmente aos jovens, como Rita Pereira, de 23 anos, que em declarações à Agência admitiu que para as novas gerações o 25 de abril "já não é algo tão especial" como para seus pais e avôs.

Após começar um curso de formação profissional em animação sociocultural, agora trabalha limpando escadas em um edifício de escritórios de Lisboa à espera que apareça algo melhor.

"Comecei a trabalhar em novembro para ajudar minha mãe. Agora comecei outro curso de técnico comercial, mas em Portugal, mesmo tendo estudos, está difícil de conseguir emprego", lamentou.

No âmbito político, as palavras do presidente luso foram aplaudidas por social-democratas e democratas-cristãos, os dois partidos conservadores que governam em coalizão desde 2011, mas foram duramente contestadas pela esquerda.

"Que ninguém peça ao Partido Socialista compromissos, consensos ou conciliação com a política que queremos mudar (...). Pedimos ao povo que nos permita mudar a atual política e virar a página da austeridade", respondeu o líder da oposição, António Costa.

Em contraste com as celebrações de 25 de abril nos últimos anos, marcadas pela crise econômica e a intervenção dos credores, a data foi lembrada hoje em um contexto de pré-campanha eleitoral apesar de faltar ainda quase seis meses para os pleitos.

De fato, a ocasião foi escolhida pelo médico Candido Ferreira para tornar pública sua intenção de concorrer às eleições presidenciais, programadas para fevereiro de 2016, como já fizeram Henrique Neto, Paulo Morais e António Sampaio da Novoa.