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Comunidades pobres de Buenos Aires são esquecidas durante campanha eleitoral

04/07/2015 06h07

Mar Marín.

Buenos Aires, 4 jul (EFE).- Buenos Aires se prepara para escolher um novo prefeito neste domingo, e os candidatos se esforçam para ganhar votos em bairros estratégicos, mas parecem ter esquecido nesta campanha dos cerca de 300 mil moradores das 'villas', as comunidade pobres que proliferam na capital.

Nascidas por volta da década de 1950 como resultado da crise do campo, da industrialização urbana e das sucessivas ondas migratórias, o fenômeno das 'villas miseria' em Buenos Aires não para de crescer: 15 espalhadas pela cidade e outros 24 assentamentos ilegais mudaram a fisionomia da capital argentina, especialmente na zona sul.

Na última década seu crescimento foi exponencial até alcançar 275 mil pessoas, de acordo com as últimas estatísticas oficiais - mais de 10% do censo eleitoral de Buenos Aires -, embora na realidade o número possa ser muito mais alto, uma vez que a maioria de seus moradores não tem registro algum.

Embora cada uma tenha sua própria história, os problemas são comuns: aglomeração, falta de infraestruturas e insegurança. As reivindicações também são as mesmas: urbanização, serviços mínimos, como luz e água, e oportunidades para as crianças e os jovens.

Na Villa 31, uma das mais antigas e a mais emblemática por sua localização estratégica - atrás da principal estação de trens e a poucos metros da Recoleta, um dos bairros mais luxuosos da capital - os moradores desconfiam das promessas eleitorais e denunciam o esquecimento dos políticos.

Nenhum dos principais candidatos a ganhar as eleições para a prefeitura no domingo esteve lá nesta campanha, nem escutou as queixas pelo crescimento descontrolado, as construções ilegais - que chegam em alguns casos até seis andares de altura -, e a falta de serviços básicos, como uma clínica para atender às mais de 40 mil pessoas que se amontoam em um espaço de pouco mais de um quilômetro quadrado.

A Villa 31 é, além disso, vítima da rivalidade entre a administração do Estado nacional, proprietária das terras, e o governo de Buenos Aires, responsável pela urbanização e os serviços. Respectivamente, tanto uma como o outro foram governados pelo peronismo e a direita, que até agora foram incapazes de dar uma solução para a velha reivindicação comum: urbanizar para impulsionar a integração.

"Estamos buscando moradia digna e necessária. Não queremos viver da forma como vivemos", resumiu Norma Gutiérrez, da Associação de Moradores da Villa 31.

A situação se agrava com a proliferação das drogas, especialmente o paco, um resíduo da cocaína como o crack, muito mais viciante e mais prejudicial, que está causando estragos entre a juventude, e não só nessas comunidades ou em áreas marginais.

Na origem do problema está o o grave déficit habitacional da capital argentina, segundo Pablo Vitale, da Associação Civil pela Igualdade e a Justiça (ACIJ).

O crescimento das 'villas' é a expressão de uma lacuna "entre uma recuperação econômica e a dificuldade de ter acesso a uma moradia", comentou Vitale, que denuncia que nos últimos 20 anos a gestão política, com independência da bandeira partidária, esteve marcada por anúncios que não passaram do formal e por orçamentos que não foram executados.

"Tudo o que se fez é parcialmente paliativo e deixa de fora qualquer outra política para atender à demanda gerada nas 'villas' pelo déficit de oferta no resto da cidade", acrescentou.

Cansados de promessas descumpridas, os 'villeros' portenhos não esperam grandes mudanças depois das eleições de domingo, independentemente do resultado.

"Muitos governos querem que continuemos exatamente da forma como estamos", concluiu Nora Gutiérrez.