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Obama recupera fôlego a um ano e meio de deixar Casa Branca

04/07/2015 13h59

Cristina García Casado.

Washington, 4 jul (EFE).- Barack Obama, o presidente que em 2008 inspirou os americanos e o mundo com seu "Yes, we can", recuperou agora esse impulso, a apenas um ano e meio de deixar a Casa Branca, quando todos já o consideravam um 'lame duck' e davam a efetivadade de seu mandato por encerrada.

Este sábado, 4 de julho, será um dos melhores Dia da Independência de seu mandato: nas duas últimas semanas ele entrou para a história como o presidente que reconciliou o país com Cuba após 54 anos, o que ampliou a cobertura sanitária para mais de 16 milhões de pessoas, e o primeiro a defender e facilitar a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país.

A recuperação econômica, com o desemprego em seu índice mais baixo em sete anos, influenciou muito o resultado de uma pesquisa de aprovação divulgada na terça-feira que colocou Obama pela primeira vez em mais de dois anos com mais de 50% de aprovação. A pesquisa foi encomendada pela "CNN".

Este cenário era impensável em novembro, quando um Obama em suas horas mais baixas enfrentou uma derrota maiúscula nas eleições legislativas, o que o obrigou a encarar a reta final de sua presidência com o Congresso mais hostil, controlado por um Partido Republicano que não deu trégua.

Pouco se esperava então do "lame duck", expressão americana para como são chamados os líderes que, apesar de estarem em um posto de poder, já não o tem nas mãos para usá-lo.

Mas Obama não se resignou e, livre da pressão eleitoral, recorreu ao seu poder executivo para avançar em temas estratégicos para seu governo que haviam sido barrados pela oposição no Congresso.

Assim, fez uma declaração de intenções sobre o rumo que queria dar à reta final de seu mandato ao anunciar, apenas 15 dias depois da derrota eleitoral, a regularização de mais de cinco milhões de imigrantes ilegais, a maior desde que Ronald Reagan tirou três milhões da clandestinidade em 1986.

Essa foi o primeiro de uma série de anúncios históricos com os quais Obama surpreendeu a nação e ao mundo, e que representam um legado que o coloca, para muitos nos Estados Unidos, como um dos presidentes de maior impacto da história do país.

Na semana passada a presidência de Obama foi considerada uma das mais relevantes no avanço da agenda progressista nos Estados Unidos.

A Suprema Corte legalizou o casamento gay, que quando Obama chegou à Casa Branca em 2009 só era legal em dois Estados, medida que não tinha a maioria da população a seu favor, e enfrentava uma lei, impulsionada pelo democrata Bill Clinton, contrária a este tipo de união.

Obama comemorou na sexta-feira essa decisão histórica como "uma vitória para a América", ao se transformar em maio de 2012 no primeiro presidente do país a defender o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

O Supremo, em outra decisão muito esperada, blindou pela segunda vez um pilar da reforma da saúde de Obama, seu maior sucesso na política nacional, ao aprovar os subsídios federais para a aquisição de plano de saúde.

Em seu discurso após essa decisão, o presidente insistiu que o "Obamacare" - nome popular da lei - não é mais assunto para comentários políticos de seu mandato porque já pertence ao "tecido" do país.

Na semana passada o vento estava tão a favor de Obama que até o Congresso deu uma rara boa notícia, com a aprovação da lei de Promoção do Comércio (TPA), conhecida como "via rápida", que permitirá ao presidente negociar com mais liberdade tratados comerciais internacionais.

O novo impulso de Obama, como mostraram as pesquisas, se deve também às suas últimas mensagens mais contundentes sobre o racismo, tema sobre o qual sempre foi muito cuidadoso por ser o primeiro presidente negro do país.

Um dos momentos mais comoventes, no qual muitos viram o Obama inspirador de 2008, foi quando na semana passada cantou um sentido "Amazing Grace" durante o funeral do senador Clementa Pinckney, assassinado junto com outras oito pessoas no massacre racista de Charleston, na Carolina do Sul.

E nesta quinta-feira Obama escreveu outra página chave na história dos Estados Unidos ao anunciar um acordo com Cuba para restabelecer as relações diplomáticas entre os países, rompidas desde 1961, para a reabertura, ainda em julho, das respectivas embaixadas.

"Vamos espremer até a última onça de progresso que puder enquanto tiver o privilégio de ocupar o cargo", deixou claro esta semana.

Obama ainda tem um ano e meio na Casa Branca, tempo em que poderia ver materializadas conquistas fundamentais para seu legado, como o acordo nuclear com o Irã (na reta final de negociação), e sua promessa, a mais difícil de conseguir, o fechamento da prisão de Guantánamo.