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Morte em saque na Venezuela aviva críticas devido a efeitos de crise nacional

01/08/2015 21h40

Caracas, 1 ago (EFE).- O assassinato de um jovem no meio de um saque em um mercado no sudeste da Venezuela avivou neste sábado as críticas devido às consequências da crise econômica e de insegurança vividas no país.

As principais críticas do lado opositor vieram da aliança partidária Mesa da Unidade Democrática (MUD), que convocou para o dia 8 de agosto uma "jornada nacional de protesto contra a fome, o crime organizado e pela liberdade".

O secretário-executivo da aliança que reúne praticamente todos os partidos opositores, Jesús Torrealba, disse que o protesto será simultâneo em Caracas e nas 24 capitais provinciais.

Então, se informará, anunciou, do "conjunto de propostas que a MUD exige que sejam adotadas imediatamente para enfrentar com bom senso e não com balas, a crise criada pela corrupção e pela inaptidão oficial", em referência ao governo do presidente Nicolás Maduro.

A convocação para o protesto aconteceu um dia depois da morte de um jovem de 21 anos, baleado na sexta-feira por desconhecidos no meio de um saque em uma loja de alimentos da cidade de San Félix, do estado de Bolívar (sudeste), onde foram detidas 60 pessoas.

"O saque foi planejado e executado pela 'direita maltratada' que recebe ordens dos Estados Unidos para tentar deter a Revolução Bolivariana", disse Maduro na sexta-feira pela noite.

"Haverá justiça para a pessoa assassinada", prometeu Maduro, que aprovou a versão do governador do estado de Bolívar, Francisco Rangel, que os saques "foram armados e induzidos".

Maduro acrescentou hoje que, "através da inteligência popular", os organismos de segurança do Estado estão agindo para evitar "que esta direita encha o país de violência", porque os saques "são planejados em outros estados" dentro de uma tática de "guerra econômica".

O governador de Miranda, estado que abrange vastas regiões de Caracas, o duas vezes candidato à Presidência da MUD Henrique Capriles, escreveu no Twitter que "é preciso agir imediatamente" frente à crise e lembrou que ele já apresentou algumas propostas.

Capriles propôs em 14 de julho atender a "emergência econômica" com um imediato ajuste dos salários para compensar a inflação de 74% acumulada nos primeiros seis meses do ano, segundo dados extraoficiais, já que o governo de Maduro optou por não informar sobre o aumento dos preços.

O último dado oficial mostra que a inflação em 2014 foi de quase 70%. Ao mesmo tempo oficialmente se admitiu que a economia venezuelana fechou esse ano em recessão.

"Temos uma hiperinflação somada a uma recessão econômica (...) e diante disso não podemos ser indiferentes e não propor nada", acrescentou Capriles.

Sobre a queda do preço do petróleo, recurso que representa mais de 90% das divisas que entram na Venezuela, Capriles pediu a imediata revisão de "todos os convênios onde há envio" para outros países em condições vantajosas para eles.

Também questionou o "estrito" controle estatal do câmbio e o definiu como "o maior antro de corrupção do país".

A MUD disse adicionalmente em comunicado que o saque da sexta-feira foi obra de "cidadãos desesperados com a fome e a escassez que incorreram em lamentáveis fatos de violência".

A escassez nos mercados estabelecidos de alimentos e remédios, e sua venda a preços mais caros em mercados informais, são fruto, acrescentou a MUD, "da destruição do aparelho produtivo" e "do roubo em massa dos dólares produzidos pelo petróleo" que o governo controla.

"A isto se acrescenta agora um conjunto de medidas oficiais cujo efeito prático é agravar a crise criada por eles mesmos", acrescentou.

Neste sentido, identificou expressamente "a não provisão de divisas" pelo Estado a importadores o que gerará "em dias ou semanas", advertiu, "a paralisação de indústrias que produzem veículos, cerveja e papel higiênico", entre outros produtos.

"O governo joga gasolina no incêndio da escassez", insistiu a MUD, denunciando que "esta absurda conduta oficial parece ser orientada a gerar uma convulsão social com o propósito de construir o pretexto que lhe permita suspender ou adiar eleições parlamentares que sabe que estão perdidas".

Maduro disse a esse respeito que "chova, troveje ou relampeje na Venezuela haverá eleições no dia 6 de dezembro e a revolução vai obter uma grande vitória", o que lhe permitiria conservar a maioria na Assembleia Nacional (AN, Parlamento) de um total de 167 deputados, 99 deles agora governistas.