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EUA tentam criar movimento global contra EI, mas enfrentam rejeição da Rússia

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Imagem: TTP/Efe

Lucía Leal

Em Nova York

29/09/2015 17h02

Mais de cem países apresentaram nesta terça-feira (29) suas ideias para combater o EI (Estado Islâmico) e o extremismo violento em uma cúpula promovida pelos Estados Unidos com o objetivo de criar "um movimento global" contra o terrorismo, mas que enfrenta a rejeição da Rússia, que afirmou que a iniciativa "mina os esforços da ONU".

O presidente americano, Barack Obama, presidiu a reunião na sede das Nações Unidas para fortalecer a cooperação internacional contra grupos terroristas como o EI, Boko Haram e a Al Qaeda, encontro que contou, além disso, com a participação de 20 instituições multilaterais e ativistas civis.

"Acho que o que temos aqui hoje é a emergência de um movimento global que está unido pela missão de degradar e, em último caso, destruir o EI", disse Obama em seu discurso.

No entanto, a Rússia se negou a enviar um representante de alto nível ao encontro por considerar que os EUA estavam assumindo as funções e minando os esforços da ONU, que tem uma "estratégia própria contra o extremismo", nas palavras do embaixador do país nas Nações Unidas, Vitaly Churkin.

Em declarações à imprensa russa, Churkin disse que organizar a reunião na sede da ONU é uma "grave falta de respeito" com o secretário-geral, Ban Ki-Moon. Além disso, afirmou que, inclusive no prédio das Nações Unidas, Obama está "acima de todos".

A Rússia firmou uma aliança militar com Irã, Iraque e Síria para lutar contra o EI. A esperança é conseguir que os EUA e outras potências ocidentais se somem ao grupo.

Os americanos se mostraram dispostos a cooperar com os russos na luta contra o EI, mas parecem não cogitar abandonar a coalizão de cerca de 60 países criada há um ano para combater os jihadistas.

Rússia e EUA, além disso, estão profundamente divididos sobre o papel do líder sírio, Bashar al Assad, no futuro do país, como ficou evidenciado na reunião realizada ontem entre Obama e o presidente russo, Vladimir Putin, nas Nações Unidas.

"Na Síria, derrotar o EI requer, acredito eu, um novo líder", disse Obama durante a cúpula.

"Este será um processo complexo, e estamos preparados para trabalhar com todos os países, inclusive Rússia e Irã, para encontrar uma solução política com a qual seja possível iniciar um processo de transição", acrescentou.

Vários dos participantes concordaram com a ideia, entre eles os ministros das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, Abdullah bin Zayed al Nahyan, e da França, Laurent Fabius.

"É muito difícil imaginar que o futuro da Síria seja confiado a alguém que, segundo o secretário-geral da ONU, cometeu crimes contra a humanidade", defendeu Fabius.

Já Ban alertou que os últimos dados da ONU mostram um crescimento de 70% no fluxo dos combatentes estrangeiros que chegam às regiões de conflito, pedindo uma maior atuação para evitar a radicalização de jovens.

"As redes sociais são algo central. Temos que oferecer um contrapeso aos cantos de sereia que prometem aventuras, mas terminam com horror, que prometem mais significado, mas se encerram em mais miséria", destacou Ban.

O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel García-Margallo, ressaltou que a experiência do país mostra que "não é possível negociar os terroristas" porque "ou são eles ou nós".

García-Margallo também afirmou ser "urgente" chegar a um cessar-fogo na Síria para levar ajuda humanitária aos deslocados internos. E, assim que a violência for controlada, "abrir uma transição com eleições democráticas cujos possíveis participantes serão decididos depois desse momento".

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, destacou a necessidade de combater "a visão do mundo extremista que se expande em escolas, prisões, universidades de todo o mundo".

A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, pediu que o extremismo seja combatido através da educação, setor que recebe apenas 2% da ajuda humanitária no mundo.

"Muitas crianças estão aprendendo como odiar jovens demais. Não têm esperanças nem paz", ressaltou Irina.