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ONG acusa partes em conflito no Iêmen de cometer crimes de guerra

07/10/2015 02h11

Cairo, 6 out (EFE).- A Anistia Internacional (AI) acusou nesta terça-feira, através de um relatório, todas as partes em conflito no Iêmen de terem cometido abusos dos direitos humanos, incluídos crimes de guerra, por "matar e ferir centenas de civis não envolvidos no conflito em ataques ilegais".

O estudo, intitulado "As bombas caem do céu dia e noite: os civis sob fogo cruzado no norte do Iêmen", concentra sua investigação na província de Saada, bastião dos rebeldes houthis no norte do país, mas também recolhe informação sobre outras partes do país.

A organização garantiu que a cidade de Saada, capital da província homônima, foi a que mais sofreu ataques da coalizão árabe-muçulmana liderada pela Arábia Saudita e com o consentimento do governo iemenita, que bombardeia posições dos houthis desde março passado.

A AI acusou a aliança de ter atacado alvos civis, muitos deles mulheres e crianças, além dos militares, e de ter "deixado a cidade e seus arredores em ruínas e forçado grande parte de sua população a fugir".

Além disso, a ONG criticou que a coalizão considerasse, desde o dia 8 de maio, toda a cidade como um alvo militar.

"Declarar uma cidade ou província inteira como um alvo militar viola o direito humanitário internacional, que estabelece que os que realizam ataques devem sempre distinguir entre alvos militares e civis, e devem tomar todas as medidas possíveis para evitar a população e os alvos civis", destacou o relatório.

A Anistia Internacional realizou uma investigação própria na região, na qual documentou 13 ataques entre maio e julho, nos quais morreram ao redor de 100 civis, entre eles 55 crianças e 22 mulheres, e ficaram feridos outros 56, entre eles 18 menores.

Este padrão de ataques indiscriminados na província de Saada se repetiu ao longo do Iêmen, segundo a AI, que denunciou também "a aparente indiferença pela vida dos civis e pelo direito humanitário" não só por parte dos rebeldes, "mas também pelo governo iemenita reconhecido internacionalmente".

Além disso, o relatório assinalou que a coalizão utilizou bombas de aproximadamente 900 kg de peso, "sabendo que provavelmente causariam morte e destruição indiscriminada para muito além de seus alvos".

A ONG também acusou a aliança de usar bombas de fragmentação produzidas e/ou desenvolvidas nos Estados Unidos, o que dá a entender que Washington "está fornecendo apoio logístico e de inteligência para a coalizão".

Nesse contexto, a AI pediu aos países que fornecem armas aos integrantes da aliança liderada pelo reino saudita que suspendam suas transferências.

A organização detalhou que a anarquia reina no Iêmen, já que no conflito "prevalece a atmosfera de impunidade na qual proliferaram grandes abusos de direitos humanos, incluídos crimes de guerra".

"Não parece que esta tendência possa ser revertida, já que as partes em conflito sentem que seus crimes não serão punidos", acrescentou a ONG no relatório.

Além disso, a Ai comentou que "substituir a impunidade pela prestação de contas é crucial para prevenir que estes crimes se estendam e para fazer justiça".

Assim como fez no dia 25 de setembro, a AI voltou a exigir das Nações Unidas uma investigação independente "para esclarecer as supostas violações realizadas por todas as partes em conflito no Iêmen, estabelecer os fatos e identificar os responsáveis", que deverão prestar contas.