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Pinochet ordenou assassinato de ex-chanceler chileno, segundo arquivos secretos dos EUA

O general chileno Augusto Pinochet - AP
O general chileno Augusto Pinochet Imagem: AP

Gérard Soler

Em Santiago

08/10/2015 17h54

Documentos retirados de sigilo e entregues pelos Estados Unidos ao Chile revelam que o general Augusto Pinochet ordenou o atentado no qual morreu o ex-chanceler chileno Orlando Letelier e sua secretária, ocorrido em Washington em 1976, disse nesta quinta-feira (8) o senador Juan Pablo Letelier, filho do político assassinado.

O filho mais novo do ex-ministro de Defesa e ex-chanceler do então presidente Salvador Allende disse à imprensa que em um dos documentos o secretário de Estado dos EUA na época, George Schultz, afirmou ter um relatório da CIA com "informações convincentes" de que Pinochet ordenou que Manuel Contreras, chefe da polícia secreta do regime, assassinasse Letelier.

O senador disse hoje que confia que, com base nestes arquivos desclassificados, seja possível identificar os que tentaram encobrir a responsabilidade de Pinochet no atentado, no qual também morreu a secretária de Orlando Letelier, a americana Ronni Moffitt.

"Espero que consigamos romper os pactos de silêncio e determinar a responsabilidade de pessoas que estão vivas e que vestiram uniforme, e também talvez de civis cúmplices", disse Letelier.

O atual secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que esteve no Chile no início desta semana, entregou à presidente chilena, Michelle Bachelet, um pendrive que contém mil páginas de documentos classificados pelo governo americano relacionados ao assassinato de Orlando Letelier.

A documentação, à qual a Agência Efe teve acesso, contém principalmente dados do Departamento de Estado dos EUA da década de 80.

Os relatórios deixam em evidência o descontentamento do governo americano com a decisão da Corte Suprema do Chile, em 1979, de negar a extradição aos EUA de Contreras e outros dois agentes acusados do crime do ex-chanceler e seu assistente.

Em 21 de setembro de 1976, Orlando Letelier e sua secretária foram assassinados com uma bomba ativada por controle remoto colocada debaixo do automóvel no qual estavam. Além disso, Michael Moffitt, marido da assistente de Letelier, ficou ferido.

Por sua vez, Juan Pablo Letelier afirmou que até agora tinha a "convicção política" de que Pinochet estava por trás do crime de seu pai, mas não havia antecedentes jurídicos que o provassem, algo que muda com a desclassificação dos documentos.

Os relatórios, afirmou o senador, revelam também que Pinochet estava disposto a "eliminar" Manuel Contreras, chefe da Dina (Direção de Inteligência Nacional), a polícia secreta da ditadura, para evitar que o incriminasse no atentado de Washington.

Contreras, que faleceu em agosto e acumulava penas de mais de 500 anos, foi processado e condenado a sete anos de prisão pelo assassinato de Letelier e sua secretária junto com o agente americano Michael Townley --colaborador muito próximo da Dina e autor material do atentado-- e o general-de-brigada Pedro Espinoza.

O senador socialista disse acreditar que a documentação desqualificada contenha novos antecedentes sobre a suposta responsabilidade do ex-prefeito Cristián Labbé no encobrimento do assassinato e a obstrução da investigação.

Letelier lembrou que alguns setores de direita e o próprio Contreras argumentaram durante anos que o governo dos EUA teve envolvimento com o atentado, uma versão que, garantiu, é desmentida pelos documentos desclassificados.

"A evidência deixa claro que o assassinato foi planejado no Palácio de la Moneda por parte de Pinochet; ele deu a ordem, e Manuel Contreras a executou com Pedro Espinoza Bravo, Michael Townley e um grupo de agentes", ressaltou.

O presidente da Corte Suprema, Sergio Muñoz, recebeu uma cópia da documentação, o que abre a porta para que seja reativada alguma das causas judiciais sobre este e outros casos de violações aos direitos humanos durante a ditadura.