Topo

Presídio no Rio de Janeiro faz festa para eleger sua "miss"

Manuel Pérez Bella

25/11/2015 06h05

Maquiagem, purpurina, roupa de gala, tapete vermelho, júri e câmeras de TV: as detentas do presídio feminino Talavera Bruce, do Complexo Penitenciário de Bangu, no Rio de Janeiro, tiveram de tudo nesta terça-feira (24) para se sentirem rainhas da beleza no concurso "Garota TB".

Ao todo, dez internas desfilaram diante dos olhares atentos das famílias e das colegas de cela em uma passarela improvisada no pátio do presídio, à sombra de muros de seis metros de altura com arame farpado e perante a supervisão ininterrupta das agentes penitenciárias.

As candidatas à coroa de "Garota TB" desfilaram duas vezes, primeiro com roupa de praia e depois com vestido longo de festa. O júri, composto por dez pessoas, avaliava os quesitos beleza, simpatia, elegância e desenvoltura.

Michelle Neri Rangel, de 27 anos, foi a grande vencedora e levou a faixa de "Garota TB 2016". Para ela, o concurso era "uma questão de honra".

"Estou me sentindo mulher. Aprendi a me sentir mulher na prisão", disse à Agência Efe a nova "miss", que se define como "muito sensual" e "ousada".

Michelle, que está presa desde 2010, era garota de programa, se envolveu com um assaltante e acabou condenada a 39 anos de prisão por uma série de roubos, pena que foi acrescida de outros seis anos por prostituição dentro do presídio.

As próprias concorrentes contaram que a coroa de rainha do Talavera Bruce proporciona "status" na prisão e pode ajudar a, por exemplo, conseguir um trabalho dentro da penitenciária e conquistar o respeito das colegas.

A ganhadora do ano passado, Ana Carolina Rosa de Souza, de 22 anos, condenada por tráfico de drogas, garantiu que o título lhe ajudou a conseguir "muitas coisas", inclusive a aprender a "lidar com as pessoas", tarefa que para ela era de extrema dificuldade, pois "só" se interessava por "dinheiro" e não conhecia "a palavra de Deus".

"As candidatas têm que ter cabeça erguida, força de vontade e postura. O concurso não é só de beleza. Os jurados também avaliam simpatia e essa é a chance de você se expressar", contou.

Ítala da Silva, de 21 anos, também condenada por tráfico de drogas e que ficou em segundo lugar, se descreveu como "muito vaidosa" e revelou que o concurso a estimulou a "sair da rotina do uniforme de calça jeans e camiseta branca" que todas as internas usam.

Apesar da obrigatoriedade da roupa padrão, o uso de maquiagem é comum na prisão, já que todas gostam se arrumar.

"Nosso dia a dia parece uma disputa pra ver quem está mais arrumada", revelou, em tom de brincadeira, Gisela Trajono, de 31 anos, defendendo que o concurso ajuda a elevar a autoestima.

Para ela, que cumpre pena por tráfico de drogas desde 2012, o concurso rendeu algo mais. Gisela teve hoje a oportunidade de ver pela primeira vez seu neto, um bebê de dez meses.