Fim de sanções gera alegria no governo e desconfiança entre os iranianos
Após longos anos de espera, o Irã viveu neste domingo (17) o primeiro dia após a entrada em vigor do acordo nuclear que permitirá ao país retornar aos circuitos econômicos internacionais, com alegria entre as autoridades e certa desconfiança entre a população.
Na falta ainda da opinião do líder supremo iraniano, Ali Khamenei, cuja palavra sempre é a última em todo acontecimento social, político e econômico do país, nos círculos oficiais e governamentais tudo foram flores, felicitações e grandiloquentes palavras sobre as perspectivas que se abrem para o Irã, particularmente as econômicas.
Precisamente, desde que ontem à noite foi anunciado o fim das sanções que a União Europeia, as Nações Unidas e os Estados Unidos mantinham contra o Irã por seu programa nuclear, as autoridades se esforçaram em vender à população as virtudes que isso implicará para a economia local.
O presidente Hassan Rohani, em comunicado emitido no começo da manhã, insistiu que o país abria no dia de hoje "um novo e feliz capítulo" em suas relações com o mundo, com sua dignidade intacta e sobretudo "com o caminho aberto para reintegrar-se na economia global".
Rohani felicitou o povo iraniano pela entrada em vigor do acordo que deu por superadas as "cruéis sanções" que prejudicavam sua economia sem ter perdido "sua dignidade e força".
"O JCPOA é o resultado da resistência, da determinação e da sabedoria de uma nação que se opõe à guerra e à violência e que escolheu o caminho da lógica e da negociação", acrescentou Rohani.
O presidente ressaltou que o país já superou "o período de dureza econômica" e falou do início de uma "era de desenvolvimento" que exigirá "iniciativa, inovação, investimento e o uso das novas oportunidades por todos, particularmente os mais jovens".
Desconfiança popular
Na rua, no entanto, a população não deu tanta importância ao histórico acordo como o governo e o sentimento majoritário foi de desconfiança, quando não cinismo, sobre as consequências do acordo.
A maior parte das pessoas consultadas pela Agência Efe se mostraram satisfeitas pela aproximação entre seu país e o Ocidente, apesar de duvidarem muito que a economia doméstica, sua maior preocupação, se verá afetada de forma positiva.
"Sim, haverá mais dinheiro, mas terminará nos mesmos bolsos de sempre", afirmou à Efe um homem que não quis identificar-se.
Outra mulher se pronunciou no mesmo sentido ao assinalar que "tudo é muito lindo", mas que os preços não iam baixar e que o acordo era apenas "um jogo que beneficiaria poucos".
Por outro lado, o marinheiro Alireza Kachuí, de 28 anos, se mostrou satisfeito pelo fim das sanções e "orgulhoso como iraniano" pelo país ter mostrado ao mundo que "com diplomacia e negociação, e não com ameaças e pressão", é possível resolver os conflitos.
Já Rahim Gholami, de 24 anos, disse à Efe sentir "uma boa sensação" pelo fato de que o Irã tenha "uma melhor relação" com o exterior após este acordo e que se abra "muito potencial" para o país.
No entanto, não quis fazer nenhuma menção aos possíveis benefícios econômicos que o pacto pode trazer.
Sem festas
Ao contrário do que durante a negociação nuclear, em que as pessoas saíam espontaneamente à rua para comemorar, por enquanto não aconteceu nenhum ato festivo.
Ontem à noite entrou em vigor o acordo anunciado em julho do ano passado pelo Irã e o Grupo 5+1 (Estados Unidos, França, Rússia, Reino Unido, China e Alemanha), criado para evitar que o Irã possa desenvolver armas atômicas enquanto lhe permite manter um pequeno programa nuclear e se eliminam as sanções contra sua economia.
Entre outras medidas, o fim das sanções implica na liberação de bilhões de dólares iranianos que estavam congelados em contas do exterior, a culminação do embargo ao petróleo iraniano e a eliminação das restrições bancárias e de seguros que afetavam o país.
Desde que Rohani assumiu o poder em agosto de 2013, sua administração fez da consecução do acordo nuclear uma de suas prioridades, com a esperança de que o mesmo melhore a situação econômica do país.
O êxito na consecução do acordo pode permitir a Rohani e seus aliados moderados obter um bom resultado nas eleições parlamentares previstas para o mês de fevereiro, o que ajudaria o líder a avançar em sua agenda política e social, até o momento supeditada à econômica.
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