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Uma oficina de bonecos sobrenaturais espanta na Tailândia

10/02/2016 06h17

Gaspar Ruiz-Canela.

Bangcoc, 10 fev (EFE).- Em uma casa com a fachada rosa, três tailandeses costuram e pintam bonecos de plástico em uma oficina doméstica normal e comum, não fosse porque os brinquedos têm supostos poderes sobrenaturais.

"Fico feliz de cuidar dos bonecos", explicou à Agência Efe Mananya Boonme "mama Ning", a criadora destes bonecos mágicos chamados "look thep" ("anjos infantis", em tailandês) em sua casa no norte da área metropolitana de Bangcoc.

"Ao cuidar deles sinto que minha vida está melhorando, me sinto feliz ao olhá-los. Cuido deles e me dão energia para ir trabalhar e ir para templos, e assim consigo ganhar mais dinheiro", acrescentou "mama Ning", sentada junto com um de seus "look thep".

Nos últimos meses, estes bonecos mágicos entraram na moda e há proprietários que passeiam com eles nos braços, em carrinhos e até lhes reservam assento e comida nos restaurantes.

Em sua maioria são bonecos de entre 20 a 50 centímetros de altura, embora em alguns casos sejam criadas versões de bebês, os quais tomam banho, trocam a roupa e são tratados como se estivessem vivos.

Uma companhia aérea tailandesa chegou a vender uma passagem para um destes bonecos para que ocupasse um assento, decisão que foi desautorizada pelas autoridades locais algumas horas mais tarde.

Há quatro anos, "mama Ning" se dedicava a vender bonecos, roupa para crianças e bolsas quando lhe ocorreu fazer "uma mandinga" em um dos brinquedos para transformá-lo em um objeto mágico, assim nasceu o primeiro "look thep".

Embora se declare budista, a vidente assegura que tem poderes para entrar em contato com a deusa hindu Una Devi (Parvati).

"Pus alguns grãos e ervas sagradas e um amuleto dentro do boneco e rezei para transmitir a ele energia positiva", contou a tailandesa, casada e com um filho de sete anos.

"Mama Ning" esclarece que não convoca nenhum anjo ou "alma penada" para "encarnar" em sua criação, mas lhes confere vida a partir de uma energia mística.

A moda dos bonecos sobrenaturais também é um bom negócio, já que seus preços oscilam entre 1.900 bats (US$ 53) a cerca de 50.000 bats (US$ 1.400).

A tailandesa Air, de 39 anos e seguidora de "mama Ning", afirmou que não lhe importa que a chamem de louca e vai para todo lado com seu boneco, pelo qual pagou 40.000 bats (cerca de US$ 1.100) e que batizou de Dola.

"Acredito que é como um guia espiritual", disse a mulher, acrescentando que em alguns casos podem servir para ajudar pessoas que perderam um filho.

Mais de 90% dos tailandeses são adeptos do budismo, mas em muitos casos sua fé é influenciada por crenças hindus e animistas presentes no Sudeste Asiático antes da chegada dos primeiros monges budistas.

Os amuletos e a adoração de ídolos animistas ou fálicos remonta a vários séculos antes, mas a moda dos "look thep" reflete não só uma estética do século XXI, mas também males contemporâneos, como a insegurança e a solidão.

"Estes bonecos abordam o problema da insegurança moderna dos tailandeses", afirmou à Efe a professora Manasikarn Hengsuwan, da Universidade de Chulalongkorn em Bangcoc e especialista em animismo e temas esotéricos.

"(As pessoas) quando se sentem inseguras rezam pelo que precisam e oferecem em troca oferendas. Confiam nos bonecos-criança porque sentem que podem controlá-los melhor", disse Manasikarn.

Esta superstição se assemelha à antiga prática, já proibida, de criar amuletos chamados "kumanthong" a partir de fetos humanos mortos.

Os animistas em geral acreditam que os espíritos são benéficos se forem tratados com oferendas, caso contrário podem ser prejudiciais. EFE

grc/ma

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