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EUA e Rússia entram em acordo para fim das hostilidades na Síria

12/02/2016 02h33

Juan Palop.

Munique (Alemanha), 12 fev (EFE).- EUA e Rússia entraram em acordo nesta quinta-feira para estabelecer o fim das hostilidades no prazo de uma semana na Síria, assim como para intensificar o envio de ajuda humanitária na nação árabe, mas as diferenças entre Moscou e Washington seguem evidentes.

O compromisso foi alcançado após mais de seis horas de negociações do Grupo Internacional de Apoio à Síria, no qual se encontram EUA e Rússia, mas também Turquia, Irã, Arábia Saudita, Catar, Egito, França, Alemanha e Reino Unido, que se reuniu em Munique, no sul da Alemanha.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, anunciou em entrevista coletiva conjunta com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que os mesmos tinham se comprometido com o "ambicioso" objetivo de acabar com a violência no país árabe em uma semana.

Para determinar como será possível evoluir deste compromisso provisório para um cessar-fogo "durável", Kerry explicou que se iniciará, no contexto das Nações Unidas, um grupo de trabalho com presidência compartilhada por Rússia e EUA.

Esta interrupção das hostilidades, no entanto, tem duas exceções: por um lado, permite as ações defensivas, por outro, não inclui as ações militares contra grupos terroristas.

Kerry ressaltou que o grupo havia "encorajado" uma trégua em ocasiões anteriores, mas, nesta ocasião, "foi decidido especificamente um processo e um calendário", e os países envolvidos concordaram em "fazer o possível" para alcançar este objetivo.

Além disso, Kerry reafirmou o compromisso de todos os países que formam o grupo para "acelerar e ampliar" de maneira imediata a entrega de ajuda humanitária à população civil na Síria.

O secretário de Estado dos EUA comentou que o acordo será implementado nesta mesma semana e começará a ser aplicado nas zonas mais afetadas, as rurais, as remotas e as sitiadas, entre elas a cidade de Madaya, mas que acabará sendo colocado em prática em todas as regiões do país.

Lavrov, por sua vez, destacou como um dos avanços mais significativos do acordo alcançado em Munique a intenção da Rússia e da coalizão liderada pelos EUA de realizar ações coordenadas no âmbito militar.

"É uma mudança qualitativa que estamos pedindo há muito tempo e agora aplaudimos", garantiu o chefe da diplomacia russa.

O valor do acordo selado em Munique "será medido de acordo com o que ocorrer no terreno" e não por "palavras escritas em um papel", disse Kerry.

Apesar do acordo, que ainda tem que ser modelado no terreno, as diferenças entre Rússia e EUA persistem, como ficou patente na entrevista coletiva conjunta.

O ministro russo deixou bem claro que o fim da violência estabelecido "não inclui as entidades terroristas", o que pode gerar um problema sobre quem estaria dentro desta definição de acordo com cada parte.

"Entendo que nós, e a coalizão liderada pelos EUA, seguiremos lutando contra estes grupos. Os terroristas estão fora deste compromisso", afirmou Lavrov.

Além disso, Washington e Moscou diferem em sua avaliação das ações que estão sendo realizadas pelo exército do presidente Bashar al Assad com apoio aéreo russo.

Enquanto Kerry tachou de "ação agressiva" os avanços militares em torno de Aleppo, Lavrov legitimou o uso da violência para recuperar o terreno tomado "ilegalmente" do governo pelos grupos rebeldes.

A outra grande diferença entre Rússia e EUA é o futuro de Assad, mas ambas as partes coincidiram em assinalar que o povo sírio, através de negociações, deve decidir o futuro do país após a guerra.

"Há diferenças sobre o resultado (das negociações de paz). Este é o desafio aqui. O melhor que podemos fazer é seguir trabalhando de forma colegiada para ver como será possível acabar com esta guerra", afirmou Kerry.

Sobre uma possível transição política na Síria, o secretário de Estado americano garantiu não criar "nenhuma ilusão" e reconheceu que serão necessárias concessões de todas as partes para se chegar a um acordo.

"Estamos convencidos de que é o único modo para que a Síria sobreviva e floresça" é o processo político, afirmou o secretário de Estado dos EUA, que apontou o "futuro de Assad" como o principal empecilho, algo que, em todo caso, "tem que ser resolvido no processo de negociações" entre governo e oposição na Síria.