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Papa e Kirill assinam acordo contra desafios como perseguição de cristãos

12/02/2016 20h58

Havana, 12 fev (EFE).- O papa Francisco e o patriarca ortodoxo russo Kirill assinaram nesta sexta-feira em Havana uma declaração comum, depois da primeira reunião dos hierarcas das duas religiões após quase mil anos, perante desafios como a perseguição dos cristãos no Oriente Médio.

"A consciência cristã e a responsabilidade pastoral não nos permitem que permaneçamos indiferentes perante os desafios que requerem uma resposta conjunta", afirma a declaração em italiano e em russo que ambos assinaram no aeroporto cubano.

A reunião histórica aconteceu justamente pelo motivo que explicavam neste documento comum, a necessidade de dar atenção "para aquelas regiões do mundo onde os cristãos estão submetidos a perseguição".

"Em muitos países do Oriente Médio e do norte África se exterminam famílias completas de nossos irmãos e irmãs em Cristo, povoados e cidades inteiras habitadas por eles. Seus templos estão submetidos à destruição bárbara e aos saques, os santuários à profanação, os monumentos à demolição", denunciaram.

Ambos expressaram como na Síria, Iraque e outros países do Oriente Médio se observa "com dor o êxodo em massa de cristãos da terra onde nossa fé começou a estender-se e onde eles viviam a partir dos tempos apostólicos, junto com outras comunidades religiosas".

Por isso, tanto Francisco como Kirill, em representação de suas igrejas, fizeram "um apelo à comunidade internacional para tomar medidas imediatas e evitar um maior deslocamento dos cristãos do Oriente Médio".

Também instaram a comunidade internacional "a unir-se para pôr fim à violência e ao terrorismo e, ao mesmo tempo, através do diálogo, a contribuir à pronta obtenção da paz civil".

"Se requer uma ajuda humanitária de grande escala para o povo que sofre e para muitos refugiados nos países vizinhos", acrescentaram.

Também solicitaram "a todos os que podem influir" para que ajudem a libertar a todos os sequestrados como os metropolitas de Aleppo, Pablo e Juan Ibrahim, capturados em abril de 2013.

Como estava previsto, também se referiram à situação na Ucrânia, "que já custou muitas vidas, causou sofrimentos inumeráveis aos civis e afundou a sociedade em uma profunda crise econômica e humanitária".

"Fazemos um apelo a todas as partes do conflito a ter prudência, mostrar a solidariedade social e trabalhar ativamente para o estabelecimento da paz", declara o texto.

A declaração também urge que ambas igrejas "trabalhem para conseguir a harmonia social e abstenham-se de participar do confronto e apoiar o desenvolvimento do conflito", ressaltando a necessidade de um "diálogo inter-religioso nesta época turbadora" e da "responsabilidade especial" dos líderes religiosos.

Em outro dos 30 pontos que formam este documento, ambos líderes religiosos também lembraram as pessoas que "vivem na pobreza extrema no momento em que a riqueza da humanidade está crescendo".

"Não podemos permanecer indiferentes ao destino de milhões de migrantes e refugiados que tocam às portas dos países ricos", ressaltaram.

A "crise da família em muitos países" e a defesa da "família fundada sobre o casamento que é um ato livre e fiel de amor entre um homem e uma mulher" também se encontram nesta declaração.

"Lamentamos que outras formas de convivência se equiparam agora com esta união", completam.

Na mesma linha, fazem um pedido para que se respeite "o direito inalienável à vida" e ressaltam "que milhões de bebês estão privados da própria possibilidade de ver a luz".

O papa Francisco e o patriarca ortodoxo russo se encontraram na sala presidencial do aeroporto de Havana, no que foi o primeiro encontro dos lideres das duas igrejas após o cisma do 1054.