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Papa fala de sogras, pratos quebrados e bisturi para defender a família

Em Tuxtla Gutiérrez (México)

16/02/2016 00h49

O papa Francisco falou nesta segunda-feira (15) de sogras, pratos quebrados e cirurgia plástica para defender com firmeza a família e o casamento frente "ao isolamento" e à busca de "conforto" do mundo atual, em um ato durante sua visita ao México.

Em uma tarde de forte calor, o pontífice reuniu milhares de pessoas no estádio de futebol "Víctor Manuel Reyna", em Tuxtla Gutiérrez, capital do Estado de Chiapas, no sul do México.

Segundo a diocese local, 43 mil entradas foram disponibilizadas para o estádio, além de outras 66 mil para que os fiéis pudessem acompanhar o pontífice através de telões no estacionamento de um campo de beisebol próximo.

O sol implacável e as temperaturas de 35ºC não impediram que os fiéis se entregassem ao pontífice aos gritos de "Viva Francisco" e "Se vê, se sente, o papa está presente".

Como resposta, receberam o calor do papa, que rompeu o protocolo para abraçar crianças e recorrer ao seu bom humor, em uma clara tentativa de se aproximar dos cidadãos de um dos Estados mais pobres e com maior proporção de população indígena do México, próximo da fronteira com a Guatemala e foco do levantamento zapatista em 1994.

Ao dar as boas-vindas ao papa, o arcebispo de Tuxtla Gutiérrez, Fabio Martínez Castillo, disse que as famílias de Chiapas sonham "em construir um México mais justo, fraterno e solidário" e "com governantes e legisladores que defendam a vida, a família, o bem comum e a casa comum".

Em seguida, foram apresentados ao papa quatro casos emblemáticos da situação de algumas famílias mexicanas, procedentes de todo o país.

Um casal de divorciados que voltaram a se casar, outro que tem 50 anos de casamento, uma enfermeira mãe solteira e um adolescente em cadeira de rodas por uma distrofia muscular.

Francisco fez eco da mensagem do jovem deficiente, que conclamou a todos a "encher a vida de vontade", e agradeceu suas palavras, mas também fez questão de enaltecer a atitude de seus pais, que ficaram de joelhos segurando o papel em que estava escrito o discurso do filho.

"Que marido e mulher não briguem, ainda mais quando a sogra se mete", brincou depois o papa, provocando risos entre os presentes, na segunda ocasião durante sua visita ao México em que usou essa figura familiar em tom de piada ao se dirigir aos fiéis.

A outra foi no sábado pela noite, quando saiu da Nunciatura Apostólica na Cidade do México, onde dorme durante sua visita ao país, para compartilhar um momento com os fiéis que o obrigaram a sair do imóvel com seus cânticos e gritos.

Após brincar sobre o horário, o papa sugeriu aos fiéis que rezassem "a Deus e à Virgem" por ele, e indicou que "Nossa Senhora é mãe, é boa, alguns dizem que não é sogra".

Nesta segunda-feira, o pontífice lamentou que, atualmente, a família esteja sendo "debilitada" e "questionada" porque "acredita-se que é um modelo que já passou e que não tem mais espaço em nossas sociedades", ao se dirigir ao casal que completou bodas de ouro, a quem abraçou emocionado.

Para Francisco, vivemos em sociedades que, "sob a pretensão da modernidade, propiciam cada vez mais um modelo baseado no isolamento". E nessas sociedades, que "se dizem livres, democráticas, soberanas, estão sendo inoculadas colonizações ideológicas que as destroem", opinou.

Além disso, o papa lamentou que muita gente prefira "sair de férias", comprar terras, "luxo e conforto", a ter um descendente e, quando querem filhos, já "passou da hora".

"Prefiro um homem e uma mulher, Don Aniceto e a senhora, com o rosto enrugado pelas lutas de todos os dias, que depois de mais de 50 anos seguem se amando", comentou Francisco.

Em seguida, o papa afirmou que é "mentira" que "uma família perfeita nunca discute" e que "é conveniente que, de vez em quando, discutam e que voe algum prato", em meio às gargalhadas dos presentes.

"O único conselho é que não terminem o dia sem fazer as pazes, porque se terminam o dia em guerra, vão amanhecer em guerra fria, e a guerra fria é muito perigosa na família, porque vai solapando desde baixo as rugas da fidelidade conjugal", explicou, em tom mais sério.

Nesse momento, "para mudar um pouco de tema", mas ainda falando "de rugas", Francisco lembrou o testemunho de "uma grande atriz do cinema latino-americano", cuja identidade não revelou, sobre a passagem do tempo em seu rosto.

"Quando estava com quase 60 anos e as rugas de seu rosto começavam a aparecer, ela foi aconselhada a fazer uma plástica, um pequeno 'ajuste', para poder continuar trabalhando e a atriz respondeu de forma muito clara: 'Estas rugas me custaram muito trabalho, muito esforço, muita dor e uma vida plena; nem sonhando quero tocar nelas, são as marcas da minha história', e ela seguiu sendo um grande atriz", relatou o pontífice argentino.

Segundo Francisco, "no casamento acontece o mesmo" e "a vida matrimonial tem que ser renovada todos os dias".

"O amor não é fácil, mas é o mais lindo que um homem e uma mulher podem dar um ao outro: o verdadeiro amor, para toda a vida", concluiu.