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Papa denuncia no México tragédia humana dos que são obrigados a emigrar

Em Ciudad Juárez (México)

18/02/2016 00h08

O papa Francisco denunciou nesta quarta-feira (17) a "tragédia humana" das pessoas que são obrigadas a emigrar, "expulsas" de seus países "pela pobreza e pela violência", na missa que celebrou em Ciudad Juárez, na última etapa de sua viagem ao México.

Francisco celebrou a missa na área da antiga feira de Ciudad Juárez, a apenas 80 metros da fronteira com os Estados Unidos, a que muitos mexicanos e centro-americanos sonham em superar em busca de um futuro melhor.

Um cenário perfeito para lembrar que em outras partes dessa mesma fronteira se concentram milhares de migrantes da América Central e de outros países, sem se esquecer dos muitos mexicanos que também tentam atravessar "para o outro lado".

A tragédia humana "que representa a migração forçada hoje em dia é um fenômeno global", afirmou o pontífice.

No entanto, o papa disse que, ao invés de citar números, esta crise poderia ser medida "por nomes, por histórias, por famílias".

"São irmãos e irmãs que deixam seus países, expulsos pela pobreza e pela violência, pelo narcotráfico e pelo crime organizado", afirmou Francisco.

Diante de cerca de 300 mil pessoas, o papa denunciou que "frente a tantos vazios legais, se estende uma rede que captura e destrói sempre os mais pobres" e entre eles os jovens, que "são 'bucha de canhão', são perseguidos e ameaçados quando tentam sair da espiral de violência e do inferno das drogas".

O papa explicou que esses imigrantes se deparam em seu caminho com "terríveis injustiças: escravizados, sequestrados, extorquidos, muitos irmãos nossos são fruto do negócio do tráfico humano".

Em sua homilia, o pontífice insistiu que não se pode negar que nos encontramos diante de uma "crise humanitária que nos últimos anos se refletiu na migração de milhares de pessoas".

"Seja por trem, por estrada e, inclusive, a pé, atravessando centenas de quilômetros por montanhas, desertos e caminhos inóspitos", descreveu Francisco.

Mulheres

Entre as vítimas da violência, Francisco não se esqueceu das mulheres.

"E o quê dizer de tantas mulheres que perderam suas vidas injustamente!", disse Francisco em Ciudad Juárez, onde os números de feminicídio estão entre os mais altos do país.

Diante de todas essas situações, Francisco pediu "o dom da conversão e o dom das lágrimas" para todos os que provocam esses sofrimentos.

"Chega de morte e exploração! Sempre há tempo para mudar, sempre há uma saída e uma oportunidade, sempre há tempo para implorar à misericórdia do pai", clamou Francisco.

O papa também elogiou "o trabalho de tantas organizações da sociedade civil em favor dos direitos dos migrantes" e também agradeceu "o trabalho comprometido de tantas irmãs religiosas, de religiosos e sacerdotes, de laicos que se empenham no acompanhamento e na defesa da vida".

"Eles oferecem ajuda na linha de frente, arriscando muitas vezes a sua própria vida. São profetas da misericórdia, são o coração compreensivo e a sustentação da Igreja que abre seus braços", louvou Francisco.

O pontífice também enviou uma mensagem às pessoas que se concentraram do outro lado da fronteira em frente à cerca que separa o México dos Estados Unidos, "especialmente àqueles que se reuniram no estádio da Universidade de El Paso, guiados por seu bispo Mark Seitz".

"Graças à ajuda da tecnologia, podemos orar, cantar e celebrar juntos esse amor misericordioso que o Senhor nos dá, e o que nenhuma fronteira poderá nos impedir de compartilhar", disse Francisco.

O papa argentino agradeceu aos "irmãos e irmãs de El Paso" por sua presença no estádio, o que "nos faz sentir que pertencemos a uma única família e a uma mesma comunidade cristã", concluiu.