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EUA impulsionam estrutura global contra o terrorismo nuclear

02/04/2016 02h53

Lucía Leal.

Washington, 1 abr (EFE).- Os Estados Unidos pediram nesta sexta-feira a outros 50 países que compartilhem mais informações de inteligência entre todos para reduzir o risco de terrorismo nuclear por parte de grupos como o Estado Islâmico (EI), em uma cúpula à qual Washington procura dar continuidade com um novo grupo de trabalho que se reunirá anualmente.

A possibilidade, por enquanto hipotética, de que grupos como o EI e a Al Qaeda tenham acesso a material nuclear, que estão presentes em vários países do mundo, e consigam fabricar uma bomba atômica improvisada foi o tema principal da 4ª Cúpula de Segurança Nuclear, que terminou hoje após dois dias de reuniões em Washington.

"Todos estamos de acordo que, para derrotar grupos terroristas como o Estado Islâmico, precisamos compartilhar mais informações. Todos entendem isso depois do que ocorreu em Bruxelas, na Turquia, no Paquistão e em tantos outros países", disse o presidente dos EUA, Barack Obama, em entrevista coletiva ao término da cúpula.

"Hoje, convidei as nações representadas nesta cúpula para que realizemos uma conversa mais ampla entre nossas agências de inteligência e segurança sobre como poderíamos melhorar a forma como compartilhamos informações dentro de nossos governos e entre nossas nações", afirmou Obama.

Essa conversa entre os mais de 50 países representados na cúpula terá como enfoque "prevenir todo tipo de ataques terroristas, especialmente aqueles que possam envolver armas de destruição em massa", acrescentou o presidente americano.

Em uma sessão da cúpula dedicada ao tema, Obama reconheceu que, até agora, "nenhum grupo terrorista teve sucesso para conseguir uma bomba nuclear", mas pediu que a comunidade internacional faça "o possível" para evitá-lo.

Após essa sessão, os presentes à cúpula afirmaram em comunicado conjunto que "o risco do terrorismo nuclear e radiológico continua sendo uma das maiores ameaças à segurança internacional, e que essa ameaça evolui constantemente".

"É preciso trabalhar mais para prevenir que atores não estatais obtenham materiais nucleares ou radioativos, que poderiam ser utilizados para propósitos maliciosos", afirmaram os líderes na nota.

O principal anúncio feito na cúpula foi a criação de um novo grupo de trabalho internacional sobre segurança nuclear que se reunirá anualmente para promover o debate sobre esse tema, e no qual participarão 39 países, entre eles Argentina, México, Chile, Espanha, EUA, China, Índia, França, Reino Unido e Japão.

Esse grupo pretende dar continuidade ao processo de cúpulas de segurança nuclear que foi iniciado em 2010 por iniciativa de Obama, e que teve hoje sua possível última edição, já que o presidente americano deixará o poder em janeiro e não está claro se seu sucessor manterá essas reuniões.

Com o apoio da ONU e da Interpol, especialistas desses 39 países se reunirão pelo menos uma vez por ano "para preservar as redes de cooperação que construímos (ao longo das cúpulas), para institucionalizar este trabalho e para seguir produzindo avanços durante muitos anos", explicou Obama.

A cúpula, no entanto, esteve ofuscada pela ausência da Rússia, o país com o maior arsenal nuclear do mundo, que, apesar de ter comparecido nas edições anteriores, decidiu não enviar nenhum representante desta vez, por considerar que a reunião representa uma interferência no trabalho da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Obama destacou hoje que é "muito difícil" ver grandes avanços no desarmamento nuclear mundial, "a não ser que Estados Unidos e Rússia tomem a iniciativa" nisso, porque esses dois países concentram mais de 90% das armas nucleares do mundo.

Em 2011, Estados Unidos e Rússia assinaram um novo tratado Start de desarmamento para que, em 2018, as ogivas que possuem estejam em seu nível mais baixo desde a década de 1950, e esse objetivo "está sendo cumprido" gradualmente, segundo Obama.

Porém, o presidente americano gostaria de "reduzir ainda mais o arsenal nuclear" dos dois velhos inimigos da Guerra Fria, e depois da assinatura do tratado, fez contatos com o governo russo para "iniciar uma nova fase de redução" das armas de ambos os países.

"Dado que (o presidente russo, Vladimir Putin) retornou ao poder e impôs uma visão que enfatiza o poder militar acima do desenvolvimento dentro da Rússia e da diversificação de sua economia, não vimos os avanços que esperávamos com a Rússia" no âmbito nuclear, admitiu Obama.

Pouco depois de chegar ao poder em 2009, Obama fez um discurso em Praga, na República Tcheca, no qual apresentou uma ambiciosa agenda para avançar rumo a "um mundo livre de armas atômicas", e hoje reconheceu que não alcançou tudo o que propôs.

"Já disse em Praga que o cumprimento desta agenda não seria algo rápido, e que talvez o mesmo não ocorra enquanto eu estiver vivo. Mas começamos", argumentou o presidente dos Estados Unidos.