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Kremlin diz que "Panama Papers" pretende desestabilizar país com "Putinfobia"

Pavel Golovkin/AP
Imagem: Pavel Golovkin/AP

Em Moscou

04/04/2016 09h59

O escândalo "Panama Papers" aponta em primeiro lugar contra o presidente russo, Vladimir Putin, e pretende desestabilizar a situação na Rússia, disse nesta segunda-feira (4) o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

"Embora Putin não figure de fato, para nós está claro que o alvo principal desta filtragem é nosso presidente, sobretudo perto das eleições parlamentares e das presidenciais em dois anos, e a estabilidade política em nosso país", afirmou Peskov aos jornalistas.

"É óbvio que o grau de 'Putinfobia' chegou a tal nível que já não se pode falar bem da Rússia, de qualquer sucesso obtido pela Rússia. É preciso falar mal e muito, para prejudicar, e quando não há nada para dizer, pois inventam", acrescentou Peskov.

A investigação divulgada neste fim de semana pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, em inglês) revela como vários empresários e pelo menos um amigo pessoal do presidente russo administraram até US$ 2 bilhões através de bancos e sociedades fantasma.

Embora a filtragem envolva centenas de políticos, esportistas e celebridades de todo o mundo, entre eles 12 antigos e atuais líderes mundiais, o Kremlin entende que é "óbvio que o ataque está dirigido em primeiro lugar contra nosso país e contra o presidente Putin em pessoa".

O porta-voz do Kremlin, que qualificou a investigação de pouco profissional e qualificada, acusou o ICIJ de ser uma fachada para "antigos membros do Departamento de Estado (dos Estados Unidos), a CIA e outros serviços especiais".

Peskov também se referiu a uma filtragem que afeta diretamente sua esposa, a patinadora Natalia Navka, que segundo os documentos teve uma "offshore" entre 2014 e 2015.

"Minha esposa nunca teve nem offshore", disse a respeito.

O Kremlin antecipou que não apresentará processos judiciais internacionais contra o Consórcio de Jornalistas, já que não vê "nada novo" nas filtragens.

"Não vemos sentido, porque são especulações em torno de nosso presidente que vemos todos os dias", explicou Peskov.

A investigação -baseada na filtragem de 11,5 milhões de documentos de quase quatro décadas do escritório panamenho Mossack Fonseca, especializado na gestão de capitais e patrimônios- aponta para o violoncelista Sergei Rolduguin, amigo de Putin desde a adolescência e padrinho de uma das filhas do líder russo.

Segundo o ICIJ, este músico profissional criou várias "offshores" no Panamá para lavar cerca de US$ 2 bilhões com ajuda de importantes empresas estatais russas, entre elas o banco Rossia, a filial cipriota do banco VTB e o operador de telecomunicações Rostelecom, entre outras.

Outros documentos revelam movimentos de empresas "offshore" vinculadas à família do presidente da China, Xi Jinping; ao líder da Ucrânia, Petro Poroshenko; e ao falecido pai do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron.