Topo

Liberdade de imprensa está mais ameaçada e jornalistas mais perseguidos

03/05/2016 08h42

Rafael Molina.

Redação Internacional, 3 mai (EFE).- Exercer a liberdade de imprensa é cada vez mais complicado e arriscado em um mundo onde os jornalistas são ameaçados por governos e poderes fáticos e usados como moeda de troca em conflitos por grupos terroristas.

No Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, a Repórteres sem Fronteiras (RSF), uma das principais ONG de defesa desta profissão, constatou em seu relatório anual a "deterioração profundo e preocupante da capacidade dos jornalistas para exercer seu ofício e sua função no total liberdade ou independência".

A ONG criticou especialmente países "cujos dirigentes podem se vangloriar de ter amordaçado a informação" no último ano.

Alguns deles já são reincidentes: Arábia Saudita, Irã, Coreia do Norte, Burundi, Eritreia, Azerbaijão, Cuba, Venezuela, Rússia e China, mas outros entraram nesta lista: Egito, Tailândia e Turquia, onde os controles sobre jornalistas foram reforçados drasticamente.

Os líderes destes países acreditam que o controle dos veículos de imprensa é necessário para manter a segurança e a estabilidade e sob este argumento o Egito, por exemplo, mantém mais de 20 jornalistas presos, e na China estão detidos dezenas de profissionais críticos ao sistema.

"Incitar a subversão contra o poder do Estado", "divulgar informações falsas" e "incitar a violência" se transformaram na fórmula para fazer calar os que contradizem as opiniões de governos ou grupos armados.

Em países ocidentais, a luta contra o terrorismo, cada vez mais ativo, serve de álibi para limitar a liberdade de informação através de leis repressivas, criticam as ONGs.

Embora não seja o único caso, a Anistia Internacional citou o exemplo recente da França, golpeada este ano por vários atentados jihadistas com dezenas de vítimas mortais, e que endureceu leis que afetam a liberdade de imprensa.

Tanto AI como RSF lembraram que em 2015 morreram 63 jornalistas no exercício de sua profissão e outros 40 foram assassinados, sem que se saiba ainda o motivo de sua morte, e a estes números se somam as mortes de 19 cidadãos que exercem o jornalismo e seis colaboradores de meios de comunicação.

Muitos deles morreram em coberturas de alto risco, mas analistas de todo o mundo concordam em apontar que o repórter, antes mera testemunha de guerras ou catástrofes humanitárias, agora se transformou em moeda de troca para alguns grupos terroristas que os usam para chantagear governos e obter vantagens.

A RSF afirmou em seu último relatório que 54 jornalistas estão sequestrados no mundo por organizações terroristas ou criminais.

Esta é uma atividade já frequente para organizações como Estado Islâmico, Al Qaeda, Al Shabab e outras de corte jihadista que transformaram em negócio os sequestros que, ao mesmo tempo, impossibilitam o jornalista fazer uma cobertura segura em alguns pontos do mundo.

Os exemplos mais evidentes estão na Síria e na Líbia, onde se tornou praticamente impossível ou, pelo menos muito arriscado, cobrir estes conflitos com condições mínimas de segurança.

Complicada é também a situação do México, um país onde a liberdade de informação se deteriorou rapidamente nos últimos anos e onde a imprensa sofre a dupla ameaça de grupos criminosos e organizações de narcotraficantes, e do governo, que usam leis restritivas para censurar repórteres, segundo o último relatório da "Forbes".

Precisamente, no Dia da Liberdade de Imprensa, um novo jornalista se somou à longa lista de vítimas. O jornalista hondurenho Félix Molina foi baleado em um atentado em Tegucigalpa.

"Infelizmente continuamos a habitar um país de alto risco onde os jornalistas que exercem a profissão de maneira independente e tocam os temas sensíveis estão expostos a estes fatos", disse Molina após o ataque.

Um argumento infelizmente aplicável a muitos outros casos e que parece continuará a valer por mais tempo.

E isso apesar aos esforços de ONG e alguns governos que pediram oficialmente a criação de um Representante Especial do secretário-geral das Nações Unidas para a Segurança dos Jornalistas. EFE

rml/cd