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Beirute Madinati, o movimento civil que quer governar a capital do Líbano

07/05/2016 06h09

Kathy Seleme.

Beirute, 7 mai (EFE).- Uma grande movimentação toma conta do diretório central do Beirute Madinati (Beirute minha cidade, em tradução livre), um novo partido nascido nos recentes protestos civis no país e que pretende vencer as eleições municipais deste domingo, rompendo as fidelidades tribais e sectárias que caracterizam a política libanesa.

Na sede do partido, localizada no bairro residencial de Badaro, um grande número de voluntários sentados ao redor de várias mesas trabalha como um enxame de abelhas para finalizar os preparativos para as eleições municipais.

Eles preparam os comícios, comunicados e vídeos da reta final da campanha para convencer os cidadãos de Beirute a votar em sua chapa, integrada por 12 homens e 12 mulheres - arquitetos, urbanistas, advogados, artistas e empresários que se apresentam como ativistas.

"Pedimos o mínimo, espaços verdes para que as pessoas se encontrem, espaços culturais para que haja intercâmbios, respeito ao meio ambiente, ao patrimônio cultural e arqueológico, que haja luz, água e infraestruturas e que se escute o clamor do povo para que volte a ter esperança", disse à Agência Efe Ivonne Daher, encarregada de coordenar um grupo de voluntários.

Em uma breve pausa nas atividades e após confessar que ela e os companheiros estão "estressados com os últimos preparativos", Daher destacou que pretendem "satisfazer os desejos dos beirutenses que querem que Beirute volte a ser a cidade de seus sonhos".

As eleições municipais serão realizadas em quatro rodadas ao longo dos quatro domingos de maio. A primeira, em 8 de maio, vai acontecer em Beirute, Bekaa e Hermel; a segunda, uma semana depois, no Monte Líbano; em seguida, no sul e em Nabatie, e no último fim de semana, no norte e em Akkar.

Em seu programa eleitoral, o Beirute Madinati, que disputa eleições pela primeira vez, prometeu, entre outras coisas, entregar o poder de decisão à população, consagrar seus valores fundamentais, instaurar um sistema de transporte público e desenvolver uma estratégia para a gestão dos resíduos sólidos.

A crise do lixo e os protestos que explodiram em julho de 2015, pela incapacidade das autoridades de lidar com os resíduos, foi exatamente o aglutinador deste movimento, que tenta dar continuidade ao mal-estar civil surgido pela estagnação política no país.

Daher garantiu que seu movimento não está diretamente influenciado ou inspirado em outros semelhantes surgidos no mundo árabe ou na Europa, como o Podemos na Espanha e o Cinco Estrelas na Itália, embora considere que "os movimentos espontâneos que surgem no mundo são a verdadeira política".

"Há uma nova geração, da internet e das redes sociais, que sente que tem o poder e o direito de mudar as coisas que não a agradam. Protestam através do Facebook, o que produzirá uma mudança na democracia que veremos nos próximos anos", concluiu.

Para a candidata Ran Jury, Madinati se identifica com a juventude libanesa que, segundo ela "cortou o cordão umbilical que a unia à classe política".

Uma classe política que no Líbano se estrutura em nível local em torno de clãs e famílias e, em nível nacional, em torno de comunidades religiosas.

O Beirute Madinati vende "tecnocratas apolíticos" como receita contra as lealdades de clãs e comunitárias tradicionais, e multiplicou a realização de encontros com cidadãos, a maioria jovens, em áreas públicas, onde eles podem expor seus problemas e que às vezes estão amenizados com atuações musicais.

Em uma destas reuniões, convocada em um estacionamento no bairro de Hamra, a estudante de arquitetura Sybil Tarazi reiterou que votará nesta nova chapa porque quer "viver em uma cidade onde se pode ter uma vida normal".

"Estamos cansados de viver sem água, eletricidade e sem infraestruturas, e que a situação piore ano após ano", disse ela à Efe.

Para Mai Aboud, professora universitária e ceramista, "o partido representa algo novo para as pessoas comuns, que perderam tudo".

"É muito difícil viver e enfrentar todos os problemas (em Beirute). As autoridades nunca trabalharam pelos cidadãos, mas por seus próprios interesses", disse esta eleitora, convencida do sucesso do novo partido, que nestas eleições só concorrerá na capital.