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Terrorista de Nice planejava atentado havia meses e tinha cúmplices

Mohamed Lahouaiej Bouhlel, autor do ataque em Nice, em foto tirada de dentro do caminhão utilizado no atentado - Reprodução/TF1
Mohamed Lahouaiej Bouhlel, autor do ataque em Nice, em foto tirada de dentro do caminhão utilizado no atentado Imagem: Reprodução/TF1

Em Paris

21/07/2016 14h45Atualizada em 21/07/2016 15h29

O autor do atentado terrorista que matou mais de 80 pessoas em Nice planejou o massacre "vários meses antes de passar à ação" e contou com a cooperação de vários cúmplices, entre eles as cinco pessoas que continuam detidas, informou nesta quinta-feira (21) o procurador-geral da República da França, François Molins.

"A investigação em curso desde a noite de 14 de julho avançou e não só confirmou a natureza premeditada do assassinato perpetrado por Mohamed Lahouaiej Bouhlel, mas também mostra que ele se beneficiou de ajuda e cumplicidade", disse.

De acordo com ele, houve "avanços notáveis" na investigação nas últimas horas, que apontam para um atentado melhor preparado e com mais participantes do que as autoridades acreditavam no começo. Segundo o procurador, cerca de 400 agentes trabalharam na ação.

As cinco pessoas detidas enfrentam acusação preliminar de terrorismo por causa da possível ajuda a Bouhlel. São dois homens franco-tunisianos, um albanês, um tunisiano e uma mulher franco-albanesa, todos entre 21 e 42 anos. Nenhum dos cinco detidos estava fichado pelos serviços de inteligência, acrescentou o procurador.

Caminhão acelera sobre multidão

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Apesar do relato de pessoas próximas a Bouhlel de que ele não dava sinais de ter se radicalizado, Molins afirmou que evidências encontradas no telefone do terrorista indicaram que ele planejava um ataque desde 2015.

Um de seus supostos cúmplices, Mohammed Oualid G., com quem Bouhlel conversou por telefone em 1.278 ocasiões no último ano, aparece em duas fotos na cabine do caminhão com o qual cometeu o massacre.

Este último lhe enviou uma mensagem em janeiro de 2015, pouco depois do atentado à sede da revista "Charlie Hebdo", no qual lhe dizia, fazendo alusão às mensagens de solidariedade às vítimas: "Eu não sou Charlie e estou feliz, enviaram os soldados de Alá para terminar o trabalho".

No dia 4 de abril, outro suposto cúmplice, Choukri C., lhe aconselhou pelo Facebook: "Encha o caminhão, ponha dentro 2 mil toneladas de ferro (...) corte os freios, meu amigo".

A pistola de pequeno calibre que Bouhlel utilizou após atropelar centenas de pessoas em Nice foi obtida por três dos detidos: Ramzy A. e os dois albaneses, segundo Molins, que afirmou que houve "contatos" sobre outra arma, um fuzil Kalashnikov encontrado em um quarto de despejo, mas que ainda não se sabe para que fim.

O procurador explicou que 15 dos feridos no massacre - no qual morreram 84 pessoas - continuam em estado crítico. 

Falha na segurança

A revelação destes novos dados sobre o autor do atentado coincidiu com a publicação de uma investigação do jornal "Libération" que aponta graves na organização da segurança do Passeio dos Ingleses, em Nice, onde as pessoas assistiam aos fogos de artifício do feriado do Dia da Bastilha.

A polícia tinha apenas um carro de serviço no Passeio dos Ingleses, segundo o "Libération".

Desde o atentado, há uma forte polêmica entre a prefeitura de Nice, em poder do partido de direita Les Républicains, e o governo socialista francês sobre o esquema de segurança na noite do atentado.

Segundo o "Libération", que cita "uma fonte policial que teve acesso às câmeras de vigilância (...), apenas um veículo da polícia municipal se encontrava na avenida, na calçada do lado do mar", no ponto restrito aos pedestres.

Ainda de acordo com o jornal, que cita uma testemunha, não havia qualquer elemento da polícia nacional na zona.

"Foram substituídos às 20h30 pelos colegas municipais e não havia qualquer carro da polícia nacional para fechar a avenida", afirma o "Libération".

As autoridades do departamento dos Alpes Marítimos afirmaram dois dias após o ataque que "os pontos mais sensíveis" de Nice na noite da festa nacional francesa estavam sob a guarda de "equipes da polícia nacional, com o reforço da polícia municipal".

"Este era o caso do ponto de acesso do caminhão à avenida, que com a proibição de tráfego estava bloqueada com o posicionamento de veículos" da polícia, explicaram as autoridades na ocasião, acrescentando que o "caminhão forçou sua passagem subindo a calçada".

O primeiro-ministro, Manuel Valls, afirmou na quarta-feira (20) que o dispositivo de segurança em Nice foi "acertado, consentido e validado" pela prefeitura local, o que foi desmentido por Christian Estrosi e Philippe Pradal, ex e atual prefeitos da cidade.

"As reuniões de que fala o primeiro-ministro foram encontros preparatórios nos quais a prefeitura reuniu o conjunto dos serviços envolvidos (...) para discutir as diretrizes", afirmaram Estrosi e Pradal.

Desde os ataques em Nice, o governo socialista de François Hollande é alvo de críticas virulentas da oposição de direita por sua gestão na luta contra o terrorismo.