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Alemanha processa ex-enfermeiro de 95 anos por 3.681 mortes em Auschwitz

O ex-enfermeiro Hubert Zafke, 95, chega para julgamento em Neubrandenburg, na Alemanha - Bernd Wüstneck/dpa/AFP
O ex-enfermeiro Hubert Zafke, 95, chega para julgamento em Neubrandenburg, na Alemanha Imagem: Bernd Wüstneck/dpa/AFP

Em Berlim

12/09/2016 16h49

A Justiça da Alemanha abriu nesta segunda-feira (12) um processo contra um ex-enfermeiro de 95 anos que pertenceu às SS (Schutzstaffel, esquadra de elite nazista) e é acusado de cumplicidade na morte de pelo menos 3.681 prisioneiros do campo de extermínio de Auschwitz.

O acusado, Hubert Z., compareceu ao Tribunal de Neubrandenburg, no leste do país, em cadeira de rodas. Esta foi a quarta tentativa de iniciar o processo, que em três ocasiões anteriores foi suspenso "de última hora" por razões de saúde do acusado.

A audiência começou com a leitura da folha de acusações da Promotoria, que relaciona Hubert com a máquina da morte nazista por ter servido como enfermeiro durante um mês a cerca de 650 metros dos crematórios desse campo de extermínio construído pelo Terceiro Reich na Polônia ocupada.

O julgamento segue o modelo de outros processos abertos na Alemanha nos últimos anos por cumplicidade em crimes nazistas, após o precedente marcado em 2011 pela condenação, a cinco anos de prisão, do ucraniano John Demjanjuk, um ex-guarda do campo de Sobibor.

Com essa sentença, foi aberta uma nova via de processo na Alemanha, extensível a pessoas que, sem ter tido uma participação ou uma responsabilidade direta, podem ser consideradas corresponsáveis por esses crimes.

Em alguns casos, as audiências foram suspensas por problemas de saúde dos envolvidos, e em outros terminaram em penas simbólicas contra as quais os condenados recorreram ou não chegaram a cumprir, como ocorreu com o próprio Demjanjuk, que morreu em um asilo poucos meses após escutar sentença.

Ainda não se sabe se o julgamento de hoje continuará na próxima semana, já que deve ainda ser resolvido um processo por suposta parcialidade apresentado contra o Tribunal.

Tanto a Promotoria como a acusação particular e organizações de vítimas do nazismo criticaram a presidência da Corte, que em três ocasiões suspendeu a abertura do julgamento atendendo ao argumento da defesa de que seu cliente não está em condições de ser julgado.

Estima-se que no período em que o ex-enfermeiro trabalhou em Auschwitz - 15 de agosto a 14 de setembro de 1944 -, chegaram ao campo de extermínio 14 trens com deportados, dos quais pelo menos 3.681 foram assassinados em câmaras de gás.

O advogado de defensa, Peter-Michael Diestel, nega a culpabilidade de seu cliente e argumenta que em Auschwitz ele se dedicou a atender outros membros das SS e soldados.

O precedente mais imediato deste processo foi a condenação a cinco anos de prisão decretada há poucos meses em Detmold contra o ex-membro das SS Reinhold Hanning, de 94 anos, por cumplicidade nas mortes de 170 mil presos.

No ano passado, em Lüneburg, também foi condenado a quatro anos Oskar Gröning, o chamado "contador de Auschwitz", por suas funções essencialmente burocráticas nesse campo nazista.

Em nenhum dos dois casos a sentença chegou a ser fixada definitivamente, por estarem pendentes de resolução dos recursos apresentados pelas defesas.

Na semana passada foi suspenso o processo contra uma ex-operadora de rádio desse antigo campo de extermínio, de 92 anos e acusada de cumplicidade em 260 mil mortes - um tribunal decidiu que ela não estava em condições de participar do julgamento.

Auschwitz foi o maior e mais mortífero campo de extermínio nazista, onde foram assassinados 1,1 milhão de pessoas, e os julgamentos tardios abertos nos últimos anos por suposta cumplicidade se baseiam no argumento de que quem lá serviu em postos chave teve que saber dos crimes nazistas.

Independentemente se os processos acabarão ou não em sentença definitiva, com estes julgamentos pretende-se deixar registrado que a acusação de assassinato ou envolvimento em crimes nazistas ou de guerra não prescrevem.