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Mais de 100 diplomatas dos EUA protestam contra veto migratório de Trump

Morty Ortega/AFP
Imagem: Morty Ortega/AFP

Em Washington

30/01/2017 16h31

Mais de 100 diplomatas americanos assinaram um documento interno no qual protestam contra o veto temporário à entrada no país de pessoas de sete nações de maioria muçulmana, por considerar que será contraproducente na luta contra o terrorismo.

No documento, entregue nesta segunda-feira (30) à imprensa, vários funcionários do serviço de exteriores expressam sua oposição à parte do decreto assinado nesta sexta-feira pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que proíbe durante 90 dias a entrada ao país de cidadãos de Líbia, Sudão, Somália, Síria, Iraque, Iêmen e Irã.

"Esta proibição, que só pode ser suspensa sob condições que para os países será difícil ou impossível cumprir, não alcançará seu objetivo assinalado de proteger o povo de ataques terroristas de cidadãos estrangeiros que ingressem nos Estados Unidos", advertem os signatários do documento.

"Além disso, essa política vai contra importantes valores americanos como a não-discriminação, o fair play e as boas-vindas aos visitantes estrangeiros e aos imigrantes", acrescentam.

O texto, que segundo o jornal "The Wall Street Journal" já recebeu mais de 100 assinaturas, seguia hoje circulando pelo Departamento de Estado para receber novos apoios antes de ser enviado ao chamado "canal de divergências" da agência.

Este canal é mantido desde a Guerra do Vietnã (1955-1975) para que seus funcionários possam expressar sua inconformidade às altas esferas da diplomacia americana sem temor a represálias, e os documentos ali arquivados devem receber uma resposta oficial em um prazo de entre 30 e 60 dias.

Embora as mensagens enviadas a esse canal costumem ser confidenciais, vários veículos de comunicação americanos reproduziram hoje partes do documento, que também foi publicado na íntegra pelo blog especializado em Direito "Lawfare".

Seus signatários lembram que "a enorme maioria" de ataques terroristas nos EUA foi cometida por americanos, e que nos casos em que há estrangeiros que viajaram ao país para realizar atentados, muitos procediam de países não afetados pelo decreto, como Paquistão e Arábia Saudita.

O documento alerta que o veto "amargará imediatamente as relações" com esses países "e boa parte do mundo muçulmano, que considera que a proibição esteve motivada pela religião".

"Ao aliená-los, perdemos acesso à inteligência e aos recursos que necessitamos para combater as causas que estão na raiz do terrorismo no exterior, antes que haja um ataque em nosso país", denunciam os diplomatas, preocupados ainda com um aumento no "sentimento antiamericano" no mundo.

"Quase um terço das populações combinadas destes países são crianças menores de 15 anos, não há dúvida que sua percepção dos EUA estará profundamente afetada por este veto", lamentam.

Além disso, os diplomatas previnem sobre a "terrível carga humanitária" que pode haver sobre os que viajam aos EUA para buscar ajuda médica, e sobre as perdas econômicas acarretadas.

Por último, alertam que o requisito imposto aos países para que o veto seja suspenso - garantir que cada indivíduo que pede visto é quem diz ser e não uma ameaça - é "vago e nebuloso" demais para que esses governos possam ou queiram cumpri-lo.

Os diplomatas propõem substituir o veto por medidas alternativas de segurança e opinam que o decreto remete "aos piores momentos da história" dos EUA, como a proibição de viver no país aos americanos de origem japonesa após a Segunda Guerra Mundial.

"Dentro de algumas décadas olharemos para trás e nos daremos conta que cometemos os mesmos erros", sustentam.