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Conselho confirma segundo turno no Equador entre Moreno e Lasso

O candidato governista, Lenín Moreno - Rodrigo Buendia/AFP Photo
O candidato governista, Lenín Moreno Imagem: Rodrigo Buendia/AFP Photo

Em Quito

22/02/2017 23h19

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador confirmou nesta quarta-feira (22) que nenhum dos oito candidatos à presidência do país obteve os votos suficientes nas eleições do último domingo (19), por isso o segundo turno acontecerá entre os dois mais votados: o governista Lenín Moreno e o opositor Guillermo Lasso.

Durante pronunciamento em cadeia nacional, o presidente do CNE, Juan Pablo Pozo, afirmou que com 99,5% das urnas apuradas, Moreno alcançou 39,33%, enquanto Lasso ficou com 28,1% dos votos.

Guillermo Lasso - AP/14.fev.2013 - AP/14.fev.2013
Guillermo Lasso, candidato à presidência do Equador
Imagem: AP/14.fev.2013

A legislação eleitoral equatoriana estabelece que, para conseguir vencer as eleições presidenciais no primeiro turno, um candidato precisa da metade mais um dos votos ou, pelo menos, 40%, com uma diferença de dez pontos percentuais em comparação ao segundo mais votado.

Por isso, Pozo disse que a partir desta quinta-feira (23), o CNE começará a organizar o segundo turno, que será realizado em 2 de abril.

O anúncio do chefe do CNE colocou um ponto final na situação tensa pela reivindicação dos correligionários de Lasso, que fizeram uma "vigília" nas imediações da sede do Conselho, em Quito, para exigir o segundo turno.

Pozo defendeu a instituição eleitoral que comanda "cujas resoluções são legais e autônomas", disse.

O chefe do CNE fez o anúncio após revelar na terça-feira (21) que era impossível uma mudança na tendência que mostrava a apuração dos votos.

Por sua vez, o presidente Rafael Correa admitiu nesta quarta, antes do anúncio de Pozo, que haverá segundo turno das eleições presidenciais e disse confiar em uma nova vitória do governo, como a do último domingo. 

As eleições

Marcadas pela delicada situação econômica e por uma campanha eleitoral incomumente insípida, empobrecida por acusações de corrupção, as eleições são, segundo as pesquisas, as mais disputadas e com maior número de indecisos dos últimos anos no país andino.

Nas eleições gerais de 2009 e 2013, Correa venceu com folga no primeiro turno. Mas a ausência de Correa, um carismático e polêmico economista que desde 2007 liderou o período mais estável da história recente equatoriana e uma castigada economia após o fim da bonança petroleira, que serviu para modernizar o país e elevar seus índices de desenvolvimento, deixaram o correísmo desgastado.

Os equatorianos votaram muito condicionados pela deterioração econômica, produto, segundo o governo, de fatores externos, como a queda do petroleiro, a desvalorização de moedas vizinhas, o fortalecimento do dólar ou os custos com o terremoto de abril passado.

A oposição, ao contrário, viu uma possibilidade de atiçar o descontentamento das classes médias e baixas, que falam em esbanjamento e má gestão.

Moreno, cujo estilo conciliador contrasta com o temperamental Correa, representa a continuação de um sistema que combina um disparado gasto social, altos impostos e um endividamento elevado.

Lasso promete fomentar o investimento estrangeiro, diminuir os impostos para estimular o consumo e a produção.

Assange e a esquerda

O resultado do segundo turno pode ser decisivo para o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, a quem o Equador mantém asilado em sua embaixada em Londres desde 2012 para evitar sua extradição para a Suécia para responder por supostos crimes sexuais que ele nega.

Moreno é partidário de manter o asilo, mas Lasso já disse que pode vir a retirá-lo.

Esta eleição também representa um novo teste para a esquerda da América Latina, após a guinada à direita em Brasil, Argentina e Peru.

Os equatorianos poderão frear o que Correa define como a "restauração conservadora" na região. Mas, se não o fizerem, deixarão sozinhas a Venezuela de Nicolás Maduro e a Bolívia de Evo Morales.

A corrupção, que está atingindo políticos da região, foi se instalando pouco a pouco como um tema durante a campanha.

São casos como o da petrolífera estatal Petroecuador, que envolveu um ex-ministro de Correa, e os dos supostos subornos da empreiteira Odebrecht a funcionários equatorianos, contabilizados em 33,5 milhões de dólares.

Os eleitores dirão se são "distorções" da campanha, como afirma Correa.

"Ocorreu corrupção neste e em muitos governos, talvez nos anteriores muito mais corrupção do que agora, mas neste momento estamos vendo o que se desenrolou", comenta, resignada, a funcionária Nora Molina após votar também no norte de Quito.