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Johannesburgo declara guerra a edifícios tomados pelas máfias

Jovens prostitutas usam casa como bordel no sul de Johannesburgo - Marcel Gascón/ Efe
Jovens prostitutas usam casa como bordel no sul de Johannesburgo Imagem: Marcel Gascón/ Efe

Marcel Gascón

Em Johannesburgo

08/03/2017 06h01

O sequestro de edifícios particulares por máfias imobiliárias é uma praga em Johannesburgo que custa milhões a cada ano e dispara a criminalidade nos degenerados bairros históricos de uma das cidades mais perigosas do mundo.

A tomada de imóveis por estes grupos frequentemente organizados se dá de maneiras diversas que têm em comum o desenlace: a perda do controle de sua propriedade por parte do dono e a criação de focos de criminalidade e insalubridade que vão se espalhando até afetar bairros inteiros.

Contra esta epidemia se rebelou a nova administração da cidade, que quer acabar com lustros de tolerância perante este fenômeno já normalizado e começou uma luta implacável contra as máfias para recuperar o controle das ruas e reviver as áreas mais deterioradas.

"Os donos alugam a propriedade, muitas vezes com um contrato de palavra, a alguém, que por sua vez o subloca a mais gente e deixa de pagar o aluguel ao dono", declarou à Agência Efe o vereador Tyrell Meyers, na frente de um destes edifícios, conhecido como "Casa Branca", no sul de Johannesburgo.

Amparados por garantias legais, explorando o excesso de carga que os tribunais têm que suportar e o desconhecimento e a corrupção da polícia, quem ocupou o edifício evita ser desalojado até esgotar a paciência do proprietário, que acaba abrindo mão de um imóvel desvalorizado demais para vendê-lo.

Os processos irregulares para adquirir propriedades embargadas pelas dívidas são outro modo de atuação das máfias, que também tomam casas vazias ou expulsam com intimidação proprietários que terminam vendendo barato, detalharam à Efe voluntários de uma patrulha cidadã.

"O novo proprietário de facto quer maximizar o lucro e começa a alugar quartos e inclusive banheiros, divide a casa em espaços menores e até constrói novos níveis", explicou Meyers, que citou como exemplo um bloco de apartamentos a poucos metros da "Casa Branca", no bairro de Turffontein.

Além de estabelecer uma unidade anticorrupção que, desde sua criação em novembro, efetuou a detenção de dezenas de funcionários corruptos, o prefeito Herman Mashaba dobrou as intervenções policiais e iniciou tribunais municipais.

Uma das prioridades deste tipo de tribunais, que começam a funcionar este mês e estão especializados em regulações municipais, é aplicar a lei com rapidez nos casos de edifícios sequestrados, de modo que possam ser desalojados e devolvidos a seus legítimos donos.

Os tribunais municipais julgarão também os que se conectam ilegalmente às redes de eletricidade e água nestes imóveis, que se contam por centenas na cidade e são transformados frequentemente em bordéis e pontos de venda de droga para desespero dos vizinhos.

"Temos que assegurar que sejam os criminosos que não se sintam à vontade em Johannesburgo, e que sejam as comunidades as que se sintam seguras", declarou Mashaba à Efe.

Um dos cavalos de batalha de seu mandato - que começou em agosto do ano passado - é restaurar e transformar em atrativo turístico o centro de Johannesburgo, que abriga os edifícios mais antigos da cidade e imponentes arranha-céus e já foi o coração financeiro e cultural da cidade.

O compromisso de Mashaba com o centro histórico e sua ideia de começar a batalha contra o crime combatendo os delitos pequenos lembram o caso do ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, que nos anos 90 reduziu de forma espetacular a violência e melhorou a qualidade de vida na 'Big Apple'.

O chamado CBD (Central Business District) de Johannesburgo começou a deteriorar-se com a saída dos negócios e da classe média branca com o fim do apartheid há 25 anos, e, apesar das melhorias dos últimos anos, continua sendo uma área proibida para muitos moradores por seus altos níveis de criminalidade.

Precisamente no CBD tribunais de justiça e sedes de bancos convivem em uma mesma rua com blocos de apartamentos tomados pelas máfias.

Em um deles, segundo Meyers, se amontoam mais de mil pessoas que pagam aluguel a donos ilegítimos. Em outro, o inquilino deixou de sê-lo para sublocar quartos e alugar os andares inferiores para abrir uma oficina e uma taverna ilegal.

A família proprietária já assumiu a perda do edifício.