França se prepara para eleições que definirão nova ordem política
Nada será igual na política francesa após as próximas eleições presidenciais. Uma nova ordem à margem dos partidos tradicionais aparece no horizonte de um Palácio do Eliseu desejado por três candidatos fora do tradicional bipartidarismo.
Marine Le Pen, Emmanuel Macron e Jean-Luc Mélenchon (da extrema direita, do centro e da extrema esquerda do espectro político) desafiam, cada um à sua maneira, o sistema imperante há décadas na França.
Os três esperam se transformar no primeiro presidente a chegar ao Palácio do Eliseu sem o apoio das duas grandes legendas que formaram a vértebra da V República: o Partido Socialista e o conservador Os Republicanos.
Somente uma vitória do candidato da direita, François Fillon, deixaria o trono em mãos "conhecidas".
As pesquisas, por enquanto, desenham um cenário próximo do empate técnico, com Macron e Le Pen liderando com consistência as intenções de voto em todas as sondagens dos últimos meses.
Mas as margens se estreitaram à medida em que se aproximava o primeiro turno de domingo, e o que parecia um mano a mano garantido entre o filho pródigo do socialismo e a campeã da ultradireita já se tornou uma corrida com final incerto entre quatro concorrentes.
A poucos dias do encontro com as urnas, as sondagens mostram uma diferença entre os dois primeiros e Fillon e Mélenchon de três ou quatro pontos percentuais, pouco superior à margem de erro, que pode cair na reta final.
A dinâmica ascendente do esquerdista Mélenchon acrescentou incerteza à corrida, ao abrir a possibilidade de um segundo turno entre ele e Le Pen que espanta o establishment e os mercados.
Seja qual for o resultado, as eleições presidenciais de 2017 serão lembradas pela queda dos socialistas e dos conservadores, cujos candidatos poderiam não superar de forma conjunta um terço do total dos votos.
No caso dos Republicanos, apesar de Fillon manter suas chances, a queda parece associada principalmente aos casos de suposta corrupção que fizeram com que seu candidato tenha sido indiciado por desvio de recursos públicos.
Quando a centro-direita realizou suas eleições primárias, em novembro, existia um consenso generalizado de que seu vencedor já estaria com um pé e meio no Palácio do Eliseu.
No entanto, o escândalo dos supostos empregos fantasmas que Fillon concedeu a sua esposa e dois de seus filhos - revelado em janeiro pela revista "Le Canard Enchainé" - derrubou de tal maneira os prognósticos que os conservadores agora temem perder eleições que consideravam vencidas há seis meses.
Nos socialistas, o panorama é ainda mais sombrio, com um candidato, Benoît Hamon, que, segundo as sondagens, não alimenta chances de passar para o segundo turno e poderia inclusive ficar com menos de 10% dos votos.
A decisão do atual presidente, François Hollande, de não tentar a reeleição abriu a caixa de pandora no partido, que realizou primárias que consagraram a ala rebelde da legenda, encarnada por Hamon, e castigaram a moderada, do ex-primeiro-ministro Manuel Valls.
Essas eleições podem abrir o horizonte político do país, que previsivelmente verá nascer um parlamento muito mais fragmentado, apesar de o sistema de turnos favorecer o bipartidarismo e a concentração de poder.
Mesmo se Fillon não conseguir a presidência, os Republicanos esperam obter bons resultados nas eleições parlamentares de junho, embora isso, da mesma forma que o nome do próximo chefe de Estado, pertença ainda ao terreno da ficção política.
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