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Justiça britânica se nega a transferir bebê em estado terminal à Itália

Com quase dois anos, Alfie Evans sofre de uma doença neurológica desconhecida - AFP
Com quase dois anos, Alfie Evans sofre de uma doença neurológica desconhecida Imagem: AFP

Londres

24/04/2018 17h55

Um juiz do Tribunal Superior de Manchester, na Inglaterra, negou nesta terça-feira (24) aos pais do bebê Alfie  Evans, nascido com uma rara doença degenerativa irreversível, a possibilidade de transferi-lo à Itália para mantê-lo com vida em um hospital.

O magistrado deixou assim a porta aberta a que a criança, de quem foram retiradas na noite desta segunda-feira (23) as máquinas de suporte artificial, passe seus "dias ou horas finais" em casa com seus pais.

Após a retirada do suporte vital, o menino, de 23 meses e em um estado semivegetativo, continuou respirando sozinho durante várias horas, após o que voltou a receber oxigênio, segundo explicaram os advogados dos seus pais.

Tom Evans, de 21 anos, e Kate James, de 20, que viram todas as instâncias judiciais britânicas e o Tribunal Europeu de Direitos Humanos negarem seus pedidos para manter seu filho vivo, solicitaram hoje uma audiência de caráter urgente perante o Tribunal Superior de Manchester.

Sua defesa argumentou perante o juiz que um avião e uma equipe médica estão disponíveis para transferir o bebê à Itália, onde seria atendido no hospital pediátrico Bambino Gesú, em Roma, gerenciado pelo Vaticano.

No entanto, o magistrado Anthony Hayden manteve a decisão que já tinha sido adotada pela Justiça britânica e afirmou que "isto representa o capítulo final no caso desta extraordinária criança".

Os médicos do hospital Alder Hey de Liverpool, onde o bebê está internado, consideram que a doença neurológica que padece está "corroendo" seu cérebro e que desligar o suporte artificial que lhe mantém vivo seria para "o melhor de seus interesses".

O magistrado do Tribunal Superior de Manchester sustentou que o cérebro de Alfie ficou "completamente danificado" e o menino perdeu "a capacidade de ver, ouvir, sentir gosto e o sentido do tato".

O pai de Alfie assegurou esta tarde à imprensa que o menino "não está sofrendo" e que os médicos ficaram "atônitos" ao comprovar que continuava respirando depois que desligaram as máquinas.

Um porta-voz do hospital britânico afirmou, por sua parte, que "por respeito à privacidade de Alfie e sua família" não se divulgará mais informação sobre sua "condição".

O diretor de Ética Médica do Centro Uehiro da Universidade de Oxford, Dominic Wilkinson, disse à agência local "PA" que o fato de que o bebê possa "respirar sozinho" não significa "que os médicos estivessem equivocados".

"A razão para desligar as maquinas de respiração é simplesmente que sua grave condição não é tratável e não vai melhorar", justificou Wilkinson.

Pavel Stroilov, um dos advogados da organização cristã Christian Legal Centre que representa a família do bebê, indicou ontem que Roma concedeu a cidadania italiana a Alfie e que "o embaixador italiano entrou em contato com o tribunal com um pedido para que o governo da Itália possa intervir no caso".