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Por que Cingapura foi escolhida para a reunião entre Trump e Kim Jong-un?

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Imagem: AFP

Raquel Godos

Em Washington

10/05/2018 20h42

Após semanas de mistério sobre a data e o local do encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un, o presidente dos Estados Unidos revelou que Cingapura será palco da histórica reunião com o líder da Coreia do Norte no dia 12 de junho, mas quais foram os motivos que os levaram a escolher o país?

Durante as negociações para acertar detalhes do encontro, o presidente americano sugeriu outros locais, como a zona desmilitarizada entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, onde Kim se reuniu no último mês com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in.

A escolha final, porém, foi Cingapura, uma ilha de 5,6 milhões de habitantes com uma das economias mais avançadas da região.

"Os bastidores sugerem que a Casa Branca descartou a região desmilitarizada porque os funcionários dos EUA estavam receosos em escolher um local que destacasse o papel fundamental da Coreia do Sul no processo", explicou à Agência Efe Mintaro Oba, ex-funcionário do Departamento de Estado e especialista sobre temas da região.

Para Oba, outro motivo para descartar a zona desmilitarizada é a ótica. "Se o encontro entre Kim e Trump ocorresse no mesmo local que a recente cúpula intercoreana, as comparações seriam inevitáveis", explicou o especialista.

O analista Scott Snyder, do Conselho de Relações Exteriores (CRF, na sigla em inglês), avalia que a libertação dos três americanos presos na Coreia do Norte diminuiu o interesse da Casa Branca pela zona desmilitarizada como ponto de encontro.

"A infraestrutura de segurança era sólida, mas, uma vez que a questão dos presos americanos foi resolvida, acredito que a ótica de uma cúpula na zona desmilitarizada pode ter ficado menos atrativa", considerou Snyder em entrevista à Efe.

Com altos parâmetros de segurança exigidos pelos dois países e uma grande estrutura logística para o encontro, Cingapura foi escolhida como palco da reunião, um país que, além disso, está a uma distância possível para os velhos aviões norte-coreanos, que têm limitações em sua capacidade de voo.

Cingapura mantém boas relações tanto como Washington como Pyongyang, abrigando embaixadas dos dois países, e conta com uma longa e respeitada história diplomática.

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"É um fato a longa história da hábil diplomacia de Cingapura em uma vizinhança difícil, que pode ser aceitável tanto para os EUA como para a Coreia do Norte", avaliou Oba.

Apesar das muitas tensões na região, o especialista afirma que o país conseguiu manter relações construtivas com muitos dos seus vizinhos, inclusive soube atender às exigências de Washington e Pyongyang de forma equilibrada.

Segundo Snyder, a Coreia do Norte tem uma relação comercial "saudável" com Cingapura e um "histórico silencioso" de problemas comerciais solucionados sem o envolvimento da política.

Mesmo sendo considerada um território neutro, Cingapura abriga uma base logística da Marinha dos EUA, contando com a presença de navios de guerra americanos nos arredores da ilha.

O país também foi o local escolhido para outras cúpulas improváveis, como a ocorrida em 2015 entre o presidente da China, Xi Jinping, e o então presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, a primeira reunião entre os líderes dos dois países em sete décadas.

"Cingapura é um local ideal para esta cúpula", afirmou ao jornal "The Washington Post" o advogado e embaixador americano no país entre 2010 e 2013, David Adelman.

"Realmente, desde sua fundação, Cingapura cultivou cuidadosamente a reputação de ser o lugar onde o Oriente se encontra com o Ocidente", disse Adelman.