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Javier Bertucci, o candidato das eleições venezuelanas que fala de fé, mas não das próprias empresas

O candidato Javier Bertucci fazendo campanha em Carabobo - Boris Vergara/Xinhua
O candidato Javier Bertucci fazendo campanha em Carabobo Imagem: Boris Vergara/Xinhua

Nélida Fernández

Caracas

18/05/2018 04h00

Antes de ser candidato à presidência da Venezuela, Javier Bertucci só era conhecido no âmbito evangélico, como pastor da igreja cristã Maranatha, e hoje, em terceiro lugar nas pesquisas, garante ser o principal adversário nas urnas do atual chefe de Estado, Nicolás Maduro, além de contar com o apoio de Deus.

O ex-pastor nasceu no estado de Portuguesa, em 1969, e desde muito jovem combinou a vida religiosa e o mundo dos negócios, uma vez que é dono de várias empresas, algumas delas estabelecidas fora da Venezuela e relacionadas com o comércio de suplementos médicos e alimentos.

Sua vida não esteve isenta de conflitos com a Justiça, como a acusação de contrabando de 5.000 toneladas de diesel à República Dominicana em 2010 ou o seu envolvimento na investigação dos chamados Panama Papers pelo suposto uso de paraísos fiscais.

Sobre este último caso foi revelado que Bertucci considerou a possibilidade de ser o presidente de uma empresa, avaliada em US$ 5 milhões, em um paraíso fiscal, através do escritório Mossack Fonseca.

Pelas acusações de contrabando, Bertucci foi detido durante três dias e depois foi submetido à prisão domiciliar por outros seis meses.

Durante a campanha, Bertucci sempre evitou esses temas. Não fala das empresas nem destas acusações e prefere abordar a crise econômica e social do país no qual "o povo passa fome" e, por isso, sua campanha se focou em distribuir pratos de sopa em bairros populares entre discursos cheios de referências a Deus e passagens bíblicas.

"Decidi junto ao Espírito Santo (...) e finalmente diante do meu Senhor pôr meu nome e minha liderança, que por graça tenho, como opção às próximas eleições presidenciais deste país", disse Bertucci em um dos seus primeiros discursos no qual assegurou que "o clamor de um povo com fome subiu ao céu".

Nesse sentido, declarou saber que 93% dos venezuelanos é "de tendência cristã", embora nem todos tenham "tendência devocional", e prometeu que, se chegar à presidência, conseguirá um país de devotos "para poder então implantar os valores cristãos".


Também afirmou que, uma vez empossado como chefe de Estado, ordenará que "a palavra" seja transmitida obrigatoriamente todos os domingos em rádio e televisão.

"Vou mudar a política pelos valores cristãos", salientou.

Apesar de ser novo no panorama político venezuelano, conseguiu posicionar-se no terceiro lugar das pesquisas em menos de um mês e acredita que é o único entre os quatro candidatos que tem verdadeiros simpatizantes, pois os outros candidatos contam com o apoio de chavistas ou antichavistas sem levar em conta a pessoa.

Bertucci tentou, a dez dias das eleições, se aliar ao candidato Henri  Falcón - segundo colocado nas pesquisas, atrás de Maduro -, mas descartou esta possibilidade, pois esperava que o outro candidato respaldasse sua candidatura, e não o contrário, o que não ocorreu.

Mesmo sendo novato e levando em conta os escândalos como empresário, é evidente o crescimento do candidato que a cada comício concentra mais seguidores.