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Israel devolve a palestinos dez toneladas de correspondências e pacotes retidos durante anos

Ramadan Ghazawi, funcionário dos correios da Cisjordânia em Jericó, mostra um dos pacotes danificados entregues por Israel - ABBAS MOMANI / AFP
Ramadan Ghazawi, funcionário dos correios da Cisjordânia em Jericó, mostra um dos pacotes danificados entregues por Israel Imagem: ABBAS MOMANI / AFP

Em Jerusalém

17/08/2018 09h26

As autoridades de Israel entregaram esta semana na cidade palestina de Jericó cerca de dez toneladas de cartas, pacotes e compras pela internet enviadas à Palestina e que estavam retidas, em alguns casos, há oito anos.

Os funcionários do escritório postal de Jericó passavam estes dias entre montanhas dos correios empilhados em imensos sacos, classificando por cidades as inumeráveis cartas e pacotes de todos os tamanhos que pertencem a palestinos, apesar de nunca terem chegado às suas mãos.

Envelopes manuseados, sujos, uma cadeira de rodas enviada em 2015 e coleções de livros que saíram da Jordânia para universidades da Faixa de Gaza e Jerusalém e que não foram abertos, são só uma parte das milhares das encomendas que serão enviados aos escritórios postais locais em Gaza e Cisjordânia para depois serem distribuídas.

"Não sabemos se há correio para Jerusalém Oriental porque ainda não revisamos tudo, mas se encontrarmos o entregaremos às autoridades israelenses para que enviem a seus proprietários", disse à Agência Efe o diretor do serviço postal palestino, Hussein Sawafta, sobre a parte da cidade ocupada por Israel e anexada unilateralmente em 1980 em uma decisão que não foi reconhecida pela comunidade internacional.

O problema está sendo resolvido por uma decisão do Cogat, órgão militar israelense encarregado de tramitar a ocupação, que com apoio do Ministério de Comunicações e da Autoridade de Alfândegas, "permitiu a transferência de uma só vez de aproximadamente dez toneladas e meia de correspondências que tinham sido retidas na Jordânia", disse à Efe Sawafta.

A medida foi tomada em virtude de um acordo de entendimento assinado em 2016 entre o órgão e a Autoridade Nacional Palestina para que esta pudesse receber correio de maneira direta, sem passar por Israel como ocorria até então, já que o país controla as fronteiras dos territórios palestinos, que ocupa desde 1967.

O memorando regularia "gradualmente a transferência direta de correspondência de todo o mundo para a Autoridade Palestina através da Jordânia, pela ponte Allenby", algo que, como confirmou o Cogat hoje, ainda não acontece.

"Mesmo se algumas encomendas e cartas já estejam inúteis para os seus receptores, em qualquer caso é seu direito recebê-los", afirmou Sawafta, que sugeriu que Israel decidiu "liberar" a correspondência porque participará de um congresso da União de Correio Universal em Adis Abeba no próximo dia 3 de setembro.

"Assim mostra ao mundo que sempre ajudam os palestinos", criticou Sawafta.

Agora resta a árdua tarefa de distribuir anos de correspondências que incluem também, por erro, pacotes enviados a outros países árabes.