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Rússia denuncia que EUA tentam promover governos alinhados na América Latina

O presidente dos EUA, Donald Trump - Getty Images
O presidente dos EUA, Donald Trump Imagem: Getty Images

Laura López

24/04/2019 16h26

O governo dos Estados Unidos busca uma mudança de "cor" em muitos governos latino-americanos para alinhá-los com os interesses de Washington, segundo denunciou em entrevista à Agência o responsável pela América Latina do Ministério das Relações Exteriores russo, Aleksandr Schetinin.

À margem de uma conferência realizada em São Paulo, Schetinin não quis comentar os ataques dialéticos dos Estados Unidos à Rússia em relação à crise da Venezuela.

"Não vamos brigar", sentenciou o alto funcionário, em resposta às declarações do assessor de segurança do governo americano, John Bolton.

Bolton declarou que as novas sanções ao país sul-americano deviam ser encaradas como "uma forte advertência para todos os atores externos, inclusive a Rússia".

A esse respeito, Schetinin explicou que estas afirmações fazem parte da estratégia dos EUA de realizar uma "revolução de cor" para "reformar o colóquio político na América Latina para torná-la mais onímodo, mais em conformidade com a linha política e ideológica da atual administração" de Donald Trump.

Daí surge também, de acordo com o diplomata, as ameaças contra Cuba e Nicarágua: "'Eu sou os Estados Unidos e não gosto deste regime, portanto vou mudá-lo, custe o que custe'. Essa é a política que estamos vendo", criticou Schetinin.

Este modo de atuação desencadeia, na opinião do diplomata, um clima de desestabilização na região que cria "linhas divisórias" e afeta o "já difícil" funcionamento dos organismos internacionais: "Nós não podemos viver assim", alertou.

Nesse sentido, citou como exemplo a apelação do governo americano às Forças Armadas da Venezuela como uma tentativa de "desmembrar as estruturas do Estado".

Estas ações, segundo Schetinin, podem levar a uma situação de caos e "o surgimento de um grande foco de tensão no meio da América Latina".

"As consequências seriam incomparáveis com a situação atual, por mais dura que seja", comentou o diplomata.

O responsável russo pela região expressou que este hipotético panorama de conflito poderia ter consequências parecidas com as vividas no Iraque após a invasão dos Estados Unidos em 2003.

"Para onde foi o exército de Saddam (Hussein), bem preparado, bem equipado e bem treinado? Passou a ser a parte mais combativa das tropas do EI (Estado Islâmico), gerando uma situação com a qual tivemos que lutar ao longo dos últimos anos", explicou o especialista em relações internacionais.

Em relação à autoproclamação de Juan Guaidó como presidente em exercício da Venezuela, que foi reconhecido por mais de 50 países, Schetinin opinou que "não houve nenhuma tentativa de fazer as coisas legais".

"Guaidó recebeu uma ligação do vice-presidente americano, foi pra praça e jurou ali no meio", relatou o diplomata, que classificou o líder da oposição como "um jovem com paixão", mas "sem experiência política".

"É um títere. Ele não entende que em um dado momento vão lhe tirar dali", comentou o especialista em relações internacionais. "O que nos dá pena é que a vítima real é o povo da Venezuela", lamentou.

Já a respeito do governo de Jair Bolsonaro, Schetinin negou que o Brasil se posicione a favor de uma possível intervenção militar na Venezuela, apesar das declarações ambíguas que o presidente fez a respeito.

"Brasil e Rússia temos muitos pontos em comum e um deles é a não admissão de uma ação de força militar na Venezuela", ressaltou o diplomata.