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Assassinato de político conservador por suposto neonazista abala a Alemanha

O político conservador Walter Lübcke foi encontrado na varanda de seu chalé com um disparo na cabeça - Reuters
O político conservador Walter Lübcke foi encontrado na varanda de seu chalé com um disparo na cabeça Imagem: Reuters

Gemma Casadevall

17/06/2019 17h14

A procuradoria federal da Alemanha está investigando como "ato ultradireitista" o assassinato do político conservador Walter Lübcke, um defensor da acolhida de refugiados que supostamente foi morto com um disparo na cabeça por um neonazista de 45 anos.

Duas semanas depois de Lübcke ser encontrado na varanda do seu chalé de Wolfhagen-Istha, perto da cidade de Kassel, no oeste do país, a procuradoria informou hoje da detenção de Stephan E., o suposto assassino.

O porta-voz da procuradoria, Markus Schmitt, indicou que existe a "firme suspeita" de que o detido matou o político e se parte do princípio que se tratou de um "ato ultradireitista".

A morte de Lübcke - de 65 anos e da União Democrata-Cristã (CDU) da chanceler alemã, Angela Merkel - aconteceu no último dia 2 de junho.

A imprensa alemã já havia cogitado a hipótese de um crime ultradireitista, já que Lübcke tinha sofrido assédio contínuo de radicais. Após a morte, apareceram mensagens em canais neonazistas insultando-o por sua trajetória ou comemorando seu assassinato.

O porta-voz da procuradoria não deu mais detalhes sobre o suspeito, por tratar-se de uma investigação em curso, mas os semanários "Der Spiegel" e "Die Zeit" começaram a divulgar já no domingo dados inequívocos sobre o suspeito.

Segundo esses veículos, Stephan E. estava em contato com o grupo neonazista Combat 18, vinculado à organização Blood & Honour e fichado pela polícia de Hessen (estado federado ao qual pertence Kassel) desde que em 1993 lançou um explosivo contra um albergue de asilados, sem causar vítimas.

Era considerado um "extremista violento", ligado à cena neonazista, e em 2009 participou de uma marcha de cerca de 400 ultradireitistas contra uma concentração sindical, mas, segundo a procuradoria, não está claro se tinha cúmplices ou se tinha planejado o assassinato.

Meses atrás, o suspeito tinha postado uma mensagem nas redes sociais, sob o codinome "Game Over", com a frase "Se este governo não renunciar imediatamente, haverá mortes", de acordo com o jornal "Süddeutsche Zeitung".

Por sua vez, o governo de Merkel pediu prudência nesta segunda-feira para que se não se chegue a conclusões precipitadas: "A chanceler confia em um rápido esclarecimento do crime", indicou seu porta-voz, Steffen Seibert.

"É importante que a procuradoria tenha assumido a investigação, que se analise todo o cenário e se esclareça o ocorrido o mais rápido possível", acrescentou a própria Merkel, em um pronunciamento posterior.

Já os opositores dos Verdes e da Esquerda exigiram a convocação imediata de uma reunião da Comissão de Interior do parlamento federal diante das suspeitas de uma trama ultradireitista.

Independentemente de qual seja o desenlace da investigação, o caso de Lübcke trouxe à tona novamente a vulnerabilidade dos políticos locais comprometidos com a acolhida de refugiados frente ao assédio da extrema-direita.

Lübcke, ex-deputado na Câmara de Hesse e chefe do governo distrital de Kassel, entrou na mira da extrema-direita por defender a decisão de Merkel de manter abertas as fronteiras do país em 2015, no pico da crise migratória.

A medida suscitou então as críticas da ala mais direitista do bloco conservador da chanceler, especialmente da União Social-Cristã da Baviera (CSU), estado pelo qual entrou a maioria do quase um milhão de refugiados chegados à Alemanha naquele ano.

Outros políticos locais já sofreram anteriormente com a ira xenófoba, como Andreas Hollstein, prefeito de Altena, também no oeste do país, que foi atacado com uma faca por um morador descontente com a chegada a essa cidade de centenas de asilados.

Seu ataque se seguiu ao sofrido em outubro de 2015 pela prefeita de Colônia, a independente Henriette Reker, que permaneceu vários dias em coma induzido após ser atacada a facadas por um ultradireitista na véspera dos pleitos municipais.

Já o prefeito de Tröglitz, Markus Nierth, uma pequena cidade do leste do país, renunciou após várias manifestações neonazistas realizadas na frente da sua casa contra a construção de um albergue de asilados, que acabou sendo incendiado antes da sua abertura.

A perseguição a Lübcke começou em 2015, quando em um ato público apelou aos princípios cristãos em defesa dos refugiados e, entre fortes vaias, desafiou os que não estivessem de acordo a sair da Alemanha.

Logo após esse discurso começaram a surgir as ameaças nas redes sociais, enquanto um blog vinculado à extrema-direita divulgou seu endereço residencial, telefones e e-mail.