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Polícia prevê longa investigação sobre caminhão com 39 corpos no Reino Unido

Polícia investiga caminhão com 39 corpos que apareceu no Reino Unido - Peter Nicholls/Reuters
Polícia investiga caminhão com 39 corpos que apareceu no Reino Unido Imagem: Peter Nicholls/Reuters

Patricia Rodríguez.

23/10/2019 12h36

A polícia britânica investiga o caso dos 39 corpos encontrados na madrugada de hoje em um caminhão frigorífico, supostamente procedente da Bulgária, em um complexo industrial no condado de Essex, no leste da Inglaterra, incidente que reabre o debate sobre as máfias de imigração.

Os agentes prenderam o motorista do veículo, um homem de 25 anos da Irlanda do Norte, como suspeito de homicídio e trabalham para esclarecer as circunstâncias das mortes de 38 adultos e um adolescente.

Em breve declaração à imprensa, a vice-chefe da polícia de Essex, Pippa Mills, se limitou a dizer que a investigação provavelmente será "longa" e pediu a colaboração da população na coleta de informações.

A identificação das vítimas, cuja nacionalidade se desconhece, é a "prioridade número um" dos agentes, segundo Mills. Outra tarefa importante é determinar a rota percorrida pelo veículo até chegar ao Waterglade Industrial Park, em Eastern Avenue, na cidade de Grays, complexo que agora está isolado.

"Por favor, levem em conta que estamos na fase inicial do que será, provavelmente, uma investigação longa", alertou a policial.

Acredita-se que o caminhão, supostamente procedente da Bulgária, entrou no Reino Unido no sábado passado pelo porto de Holyhead (em Anglesey), ao norte do País de Gales, possivelmente de um ferryboat da Irlanda, cujas medidas de controle não são tão elevadas como nos portos de Dover e Calais. No entanto, a rota final ainda não foi totalmente identificada.

A polícia também não sabe ainda como os serviços de emergência, que avisaram aos agentes com uma chamada de madrugada, foram informados sobre a presença dos corpos no caminhão.

Entre as primeiras hipóteses, as autoridades cogitam um vínculo do episódio com o tráfico ilegal de pessoas e suspeitam que o veículo, através da Irlanda, teria feito um caminho diferente do que geralmente é usado entrar ilegalmente no Reino Unido com imigrantes ilegais, evitando os movimentados portos de Dover e Calais, que são mais vigiados.

O diretor executivo da Associação de Transporte Rodoviário, Richard Burnett, informou à imprensa local que o caminhão era uma unidade frigorífica, dado que não foi confirmado pela polícia britânica.

Burnett ressaltou que a tragédia "destaca o perigo das máfias de imigrantes que levam pessoas de maneira ilegal em caminhões". As condições nas quais se encontraram essas vítimas são "absolutamente horrendas", comentou.

"(Os frigofíricos) são escuros e, incrivelmente, frios. As temperaturas chegam a 25 graus abaixo de zero quando são transportados produtos congelados", o que faz com que os humanos "percam a vida bastante rápido", especificou.

Na rota provável, o caminhão poderia ter se deslocado em ferryboat de Cherbourg, na França, até Rosslare, na Irlanda, antes de ir até Dublin, onde teria embarcado em outro ferryboat até Holyhead, no norte do País de Gales. De lá, teria seguido ao destino por estrada.

Ao contrário de Calais e Dover, o porto galês carece de sofisticados controles e medidas de segurança e torna mais fácil o acesso, embora represente um trajeto mais longo, pois pode levar "entre três e cinco dias", segundo avaliou Burnett.

O incidente chocou a sociedade britânica, que nos últimos dias só tem pensado no Brexit. O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, se mostrou "horrorizado" pelo ocorrido. O premiê da Irlanda, Leo Varadkar, classificou as mortes como "tragédia humana" e prometeu averiguar se o caminhão passou pela Irlanda.

A Agência Nacional Contra o Crime (NCA, na sigla em inglês) declarou nesta quarta-feira que o número de imigrantes introduzidos ilegalmente no país em contêineres de caminhões aumentou no último ano, sem divulgar números atualizados.

De acordo com a agência, o número de possíveis vítimas de tráfico de pessoas e escravidão moderna seguiu crescendo até registrar 6.993 casos em 2018, 36% a mais que em 2017.

O Reino Unido viveu um incidente similar em junho de 2000, quando 58 imigrantes chineses foram encontrados mortos por asfixia na traseira de um caminhão no porto de Dover. O motorista holandês desse veículo foi preso e duas pessoas conseguiram sobreviver.