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Sem provas, Trump diz que possível 2ª onda de covid-19 seria menos grave

Alex Wong/Getty Images
Imagem: Alex Wong/Getty Images

De Washington

23/04/2020 01h16

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quarta-feira, sem evidências, que se houver no país ainda este ano uma segunda onda de infecções pelo coronavírus transmissor da covid-19, ela seria menos grave.

"Se ela voltar, voltará em doses menores que conseguiríamos conter. Não será como nada do que estamos experimentando agora", disse Trump em entrevista coletiva na Casa Branca.

O presidente americano não citou evidências para essa afirmação, alegando apenas que foi informado por "10 pessoas" com quem discutiu o assunto.

Muitos especialistas em saúde pública em todo o mundo já advertiram que até que seja criada uma vacina, o coronavírus continuará difícil de ser contido.

"Pode haver pequenas brasas de coronavírus (no segundo semestre), mas vamos apagá-las", declarou Trump, que credita que os EUA estarão mais bem preparados após a primeira onda.

Trump também disse que "há uma chance muito boa de a covid-19 não voltar (aos EUA) no segundo semestre, mas a especialista Deborah Birx, que o acompanhava na coletiva e lidera a equipe oficial de resposta ao coronavírus, respondeu: "não sabemos".

O principal epidemiologista da Casa Branca, Anthony Fauci, foi muito mais enfático quando chegou sua vez de falar na entrevista.

"Vamos ter coronavírus neste outono (no hemisfério norte, primavera no hemisfério sul). Estou convicto disso, por causa do grau de transmissibilidade (da doença)", afirmou.

No início da coletiva, Trump pediu ao diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Robert Redfield, que esclarecesse o que ele havia dito em uma entrevista no dia anterior ao jornal "The Washington Post".

Redfield havia advertido que "o ataque do vírus" nos Estados Unidos "no próximo inverno (verão no hemisfério sul) será ainda mais difícil", pois coincidirá com "a epidemia de gripe".

Aparentemente incomodado com notícias sobre uma possível "segunda onda" em uma época em que está ansioso para reativar a atividade econômica nos EUA, Trump escreveu no Twitter nesta quarta-feira que a imprensa tinha "citado completamente errado o diretor dos CDC".

Por isso, Redfield apareceu na coletiva diária - o que normalmente não faz - e afirmou que tudo o que quis dizer na entrevista ao jornal era que os americanos deveriam receber uma vacina contra a gripe para "minimizar" a chance de essa doença coincidir com uma eventual segunda onda de Covid-19.

"Eu não disse (que uma segunda onda de coronavírus) seria pior, disse que seria mais difícil", ressaltou.

Essa não foi a primeira vez que Trump pressionou um especialista de seu governo a corrigir uma afirmação da qual não gostou. Em meados deste mês, Fauci também teve que se explicar a pedido do presidente.

O epidemiologista, que havia dito em entrevista à rede "CNN" que se "medidas de mitigação tivessem sido implementadas mais cedo" nos Estados Unidos, "vidas poderiam ter sido salvas", pediu desculpas em uma coletiva na Casa Branca por "fazer más escolhas sobre as palavras", e revelou que Trump o ouviu assim que recomendou medidas para conter o contágio.