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Navio naufragado em Abrolhos há cem anos na 1ª Guerra atrai mergulhadores

Ana Ikeda

Do UOL, em São Paulo

24/07/2014 06h00

Há quase cem anos, no arquipélago de Abrolhos, na costa sul da Bahia, um bloqueio naval britânico fez com que as batalhas da Primeira Guerra Mundial chegassem bem perto dos brasileiros. Um dos naufrágios mais famosos nessas águas é o do navio alemão Santa Catarina. Achado há apenas sete anos, ele virou um dos pontos de mergulho mais populares do país. 

Durante a guerra, pelo menos seis embarcações estrangeiras –três alemãs, duas britânicas e uma francesa– foram afundadas em águas brasileiras, explica Maurício Carvalho, biólogo especializado em arqueologia subaquática e criador do site "Naufrágios do Brasil". Em águas internacionais, cinco navios mercantes do Brasil foram atacados e naufragaram.

“O Santa Catarina transportava bens de consumo do Brasil para a Alemanha, mas foi apreendido em Abrolhos por um encouraçado inglês. Depois de tirarem tudo o que podiam do navio, ele foi afundado”, detalha Carvalho.  

O local exato do naufrágio, ocorrido provavelmente em agosto de 1914, permaneceu um mistério até 2007. A pista para achá-lo foi um prato "fisgado" por um pescador local. 

“Fomos atrás do pescador com uma equipe de mergulhadores. Ele pegou o barquinho e, sem indicação de GPS, apontou o dedo e disse para mergulhar que estava ali. E estava mesmo”, lembra Fábio Negrão, 40, instrutor de mergulho e Secretário de Turismo de Caravelas, cidade mais próxima do arquipélago.

Imagens subaquáticas mostram o navio mercante alemão Santa Catarina, que naufragou em Abrolhos, no litoral da Bahia, em 1914. Ele transportava bens de consumo pela Hamburg Sud e retornava à Europa. Mas a Grã-Bretanha mantinha uma frota de bloqueio na região e apreendeu o Santa Catarina, retirando o que era possível da embarcação e a afundando - Arquivo pessoal/Maurício Carvalho - Arquivo pessoal/Maurício Carvalho
Os naufrágios funcionam também como recifes de corais artificiais e abrigam fauna e flora marinhas abundantes
Imagem: Arquivo pessoal/Maurício Carvalho

Seis mergulhadores, entre eles Negrão, foram os primeiros a fazer a navegação externa no naufrágio, que está a 25 metros da superfície. “Deu para ver que ele estava semi-inteiro. A popa e a proa estavam inteiras, o leme era gigantesco. Vi que o turco [peça que desce o bote salva-vidas] estava virado para fora, ou seja, foi usado antes do naufrágio.”

Quando voltou para o continente, Negrão entrou em contato com Carvalho, que elaborou uma lista sobre os prováveis navios que podiam ser o encontrado em Abrolhos.

“Para fazer essas identificações, é preciso mergulhar e ver se as máquinas e motores são compatíveis com o tipo usado naquela época. Às vezes as placas de identificação do navio ainda estão lá, mas nem sempre isso ocorre”, explica Carvalho.

Milhares de naufrágios na costa

Os especialistas em mergulho dizem que ainda há muito a ser explorado em Abrolhos com ao menos 24 navios afundados ali –e em todo o Brasil.

De acordo com o Sinau (Sistema de Informações de Naufrágios), banco de dados criado por Carvalho a partir de informações de jornais e arquivos de época, são 2.500 naufrágios na costa brasileira. Apenas 400 deles já foram localizados.

Negrão afirma que, para explorar o interior do Santa Catarina, é preciso ser um mergulhador credenciado com no mínimo duas estrelas (jargão usado para indicar conhecimento avançado). “Para os menos experientes que isso, é possível mergulhar para avistar a parte rasa do naufrágio, a 15 metros da superfície”, estima.