WikiLeaks expõe e-mails da consultoria Stratfor


27 Fev (Reuters) - O site WikiLeaks, especializado em divulgar segredos de governos e corporações, começou a publicar nesta segunda-feira mais de 5 milhões de e-mails da consultoria norte-americana Stratfor, que já foi comparada à CIA por causa das suas análises sobre segurança internacional.

Os e-mails, obtidos por hackers, podem desmascarar fontes estratégicas e revelar ações nem sempre legítimas na coleta de informações feitas pela Stratfor, que tem várias empresas da lista Fortune 500 entre seus assinantes.

Em nota divulgada na madrugada de segunda-feira, a Stratfor afirmou que a divulgação dos seus e-mails roubados é uma tentativa de silenciar e intimidar a consultoria. A empresa disse que não vai se intimidar e negou que o executivo-chefe, George Friedman, teria se demitido, conforme dizia um falso e-mail que circula na Internet.

De acordo com a Stratfor, alguns e-mails divulgados "podem ser forjados ou alterados para incluir imprecisões; alguns podem ser autênticos". A empresa disse que não vai comentar o conteúdo hackeado, pois responder a questionamentos faria a empresa ser "duas vezes vitimizada".

O WikiLeaks não disse como teve acesso às correspondências internas e externas da consultoria texana, cujo nome é uma abreviatura de Strategic Forecasting Inc..

No começo do ano, hackers ligados ao grupo informal Anonymous disseram ter violado a correspondência de cerca de 100 funcionários da Stratfor, e que iriam divulgá-los para que a opinião pública conhecesse a "verdade" sobre suas operações.

A Stratfor diz ser uma empresa de análise geopolítica, com um modelo de negócios baseado em assinaturas. Na prática, ela presta um serviço semelhante aos de agências governamentais de inteligência.

Em sua declaração desta segunda-feira, Friedman afirmou que sua consultoria sempre se empenhou em reunir "boas fontes" em muitos países, "como qualquer publicação de análise geopolítica global faria".

O WikiLeaks e o Anonymous afirmam que os e-mails revelam segredos sombrios sobre a empresa, que em dezembro teve seu sistema invadido por hackers que roubaram emails.

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, disse à Reuters que a Stratfor é "uma firma privada de inteligência, baseando-se em informantes do governo dos EUA, de agências estrangeiras de inteligência com reputação questionável e de jornalistas".

"O que causa grave preocupação é que os alvos desse escrutínio são, entre outros, organizações de ativistas que lutam por uma causa justa", acrescentou.

Friedman disse em janeiro que os hackers dificilmente encontrariam algo relevante nos e-mails roubados.

"Deus sabe o que 100 empregados escrevendo infinitos e-mails podem dizer que seja constrangedor, estúpido ou sujeito a má interpretação ... (mas) ao procurarem em nossos e-mails sinais de uma vasta conspiração, (os hackers) vão ficar desapontados."

Pela conta AnonSec, usada por ativistas do Anonymous no Twitter, pessoas ligadas a esse grupo celebraram o roubo de dados. "Parabéns pela incrível parceria entre o #Anonymous e o #WikiLeaks para tornar públicos todos os 5 milhões de e-mails", disse um tuíte.

Não está claro o impacto que a divulgação dos e-mails terá para a Stratfor, seus funcionários, clientes e fontes. O WikiLeaks disse que está trabalhando com mais de 20 veículos de comunicação do mundo para destrinchar as informações, e antecipou parte do material ao grupo ativista The Yes Men.

O The Yes Men combate grandes corporações e havia feito campanha contra a empresa Dhow Chemical por causa de um acidente químico ocorrido na década de 1980 na Índia.

Segundo Andy Bichlbaum, membro do The Yes Men, o e-mail da Stratfor levantava a hipótese de que os ativistas estariam criando um elaborado boato para prejudicar a Dow.

"O significativo é o quadro que ele ajuda a pintar sobre a forma como as corporações operam", disse Bichlbaum à Reuters. "Elas operam em completo desrespeito pelas leis e a decência humana."

Em dezembro, após duas invasões de hackers na rede da Stratfor, dados de cartões de crédito de mais de 30 mil assinantes foram divulgados na Internet, inclusive do ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger e do ex-vice-presidente norte-americano Dan Quayle.

O FBI investiga o caso desde dezembro.

(Reportagem de Stephen Grey, reportagem adicional de Jim Finkle e Jim Wolf)

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