Em cidade filipina devastada por tufão, falta ajuda e aumenta revolta

Manuel Mogato e Andrew R.C. Marshall

em Tacloban

Do lado de fora de uma igreja destruída na cidade litorânea filipina de Tacloban, em uma estrada cercada por corpos não recolhidos e montes de detritos, está pendurado um aviso escrito à mão: "Nós precisamos de ajuda!".

Veja a trajetória do Haiyan

Suprimentos estão chegando em grande quantidade a Tacloban três dias depois do tufão Haiyan, uma das tempestades mais poderosas registradas até hoje, que transformou essa vibrante cidade portuária de 220 mil habitantes em terra arrasada repleta de cadáveres. Mas a demanda é imensa e as provisões não estão chegando aos mais necessitados.

O prefeito de Tacloban, Tecson Juan Lim, diz que a cifra de mortos somente na cidade "pode ultrapassar 10.000".

Pelo menos uma dezena de aviões militares de carga dos Estados Unidos e das Filipinas chegaram nesta segunda-feira, tendo a Força Aérea Filipina informado que transportou desde sábado 66 toneladas de suprimentos.

"As pessoas estão perambulando pela cidade, procurando comida e água", disse Christopher Pedrosa, um funcionário da área assistencial do governo.

Caminhões que partem do aeroporto levando ajuda estão tendo dificuldades para entrar na cidade por causa da avalanche de pessoas e veículos que partem. Em motocicletas, caminhões ou a pé, a população obstrui a estrada de ligação com o aeroporto, com lenços amarrados ao rosto para enfrentar a poeira e o mau cheiro dos corpos.

Centenas já partiram em aviões cargueiros para a capital, Manila, ou a segunda maior cidade, Cebu, e muitos outros dormem de modo precário no aeroporto, na esperança de conseguir entrar num voo nos próximos dias.

Jornalistas da Reuters viajaram em um caminhão do governo que levou cinco horas para recolher no aeroporto 600 sacos de arroz, comida enlatada e leite, e levar tudo até um ponto de distribuição na sede da prefeitura. Milhares de sacos foram deixados no aeroporto porque o caminhão não era suficientemente grande, disseram autoridades.

Pedrosa, o funcionário do governo, afirmou que preocupações com a segurança impediram que os suprimentos fossem entregues depois do anoitecer.

"Poderia desencadear um corre-corre", disse.

O caminhão com a ajuda estava sendo protegido por soldados portando fuzis. "É arriscado", disse Jewel Ray Marcia, um tenente do Exército filipino que liderava a unidade.

"As pessoas estão furiosas. Elas estão ficando fora de si."

 

"Nada sobrou para saquear"

O slogan oficial de Tacloban é "Uma Cidade de Progresso, Beleza e Amor". Mas o tufão Haiyan, conhecido localmente como Yolanda, transformou isso em algo completamente diferente, à medida que o desespero e a revolta aumentam. Moradores cada vez mais impacientes esperam por um fio de ajuda.

Segundo Pedrosa, no início da manhã desta segunda-feira soldados dispararam tiros de advertência para impedir que pessoas furtassem combustível de um posto.

Uma presença maior de soldados e da polícia nas ruas cobertas de detritos impediu que a maioria partisse para o saque, pelo menos até agora.

As pessoas ainda estavam esvaziando um depósito de arroz e colocando a mercadoria em carroças e motocicletas. Nenhum policial ou soldado os deteve.

Um aviso escrito à mão colocado em um posto improvisado de polícia perto de uma loja de departamentos alertava para o toque de recolher das 8h às 17h. A Reuters não pôde confirmar se o toque está sendo imposto, e cumprido.

Também foi esvaziada uma fábrica de refrigerantes e cerveja. Em algumas áreas, Coca-Cola era distribuída de graça, já que é impossível encontrar água potável. As autoridades estão prevenindo os moradores para que não bebam água de poços, que muito provavelmente está poluída.

Mas há um outro motivo por que os saques diminuíram.

"Não sobrou nada para saquear", disse Pedrosa.

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