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Civis morrem no leste da Ucrânia e negociações de paz são abandonadas

Por Aleksandar Vasovic e Andrei Makhovsky
Imagem: Por Aleksandar Vasovic e Andrei Makhovsky

Aleksandar Vasovic e Andrei Makhovsky

Em Donetsk (Ucrânia) e Minsk (Belarus)

30/01/2015 18h41

Civis foram mortos de ambos os lados em pesados confrontos no leste da Ucrânia nesta sexta-feira (30), enquanto uma tentativa de reabrir as negociações de paz na vizinha Belarus foi abortada mesmo antes de começar.

Representantes dos insurgentes voaram para Minsk, capital de Belarus, somente para anunciar que nenhuma negociação ocorreria nesta sexta, e que estavam retornando de imediato para Moscou. Seriam as primeiras negociações desde o colapso definitivo de um cessar-fogo acordado há cinco meses depois de uma nova ofensiva rebelde na semana passada.

O som de artilharia pesada ecoou pela cidade de Donetsk, principal reduto dos rebeldes, incluindo rajadas de lançadores de foguetes múltiplos e estrondos mais fortes de artilharia provenientes da área do aeroporto, um dos principais campos de batalha.

Um cinegrafista da Reuters em Donetsk viu quatro corpos cobertos perto de um centro cultural que havia sido atingido por tiros de artilharia no momento em que moradores faziam fila do lado de fora para receber ajuda humanitária.

Um quinto corpo encontrava-se em um carro bastante danificado nas proximidades. Uma mulher chorava ao lado de um dos corpos. A um quilômetro de distância, uma sexta pessoa morta jazia onde um ônibus elétrico havia sido atingido.

Os separatistas disseram que sete pessoas morreram nos dois ataques e culparam as forças do governo. Kiev disse que o bombardeio foi conduzido pelos rebeldes para arruinar a chance de negociações de paz. Ambos os lados têm feito acusações semelhantes ao longo de todo o conflito, sendo impossível verificar tais denúncias.

"Já estamos acostumados a essa artilharia e não há nada que possamos fazer sobre isso. Nossos meninos estão nos defendendo", disse Alla, um lojista no centro de Donetsk.

Em Debaltseve, a leste de Donetsk, sete civis foram mortos nesta sexta-feira durante um bombardeio de separatistas contra suas casas, disse o chefe de polícia regional, Vyacheslav Abroskin, em uma publicação no Facebook. Mais cedo, ele havia relatado outros sete civis mortos dentro e ao redor da cidade nas últimas 24 horas.

Controlada pelo governo, Debaltseve é uma encruzilhada ferroviária e rodoviária de importância crucial na região do leste da Ucrânia. A cidade e a vizinha Vuhlehirsk têm estado sob ataque ferrenho dos rebeldes, que fazem um cerco em torno de tropas do governo abrigadas ali.

Na vizinha Horlivka, cidade controlada por rebeldes que fica na linha de frente dos combates, oito civis foram mortos em ataques com foguetes no dia anterior, disse o gabinete do prefeito. Autoridades da Ucrânia não emitiram comentários.

Os militares de Kiev disseram que cinco de seus soldados também haviam morrido e outros 23 ficaram feridos em combate nas últimas 24 horas, descrevendo a situação na zona de conflito como "dura".

"Eles estão usando repetidamente Grad [mísseis], artilharia, morteiros, tanques e lançadores de foguetes", disse o porta-voz Andriy Lysenko durante uma coletiva de imprensa transmitida pela TV.

Foram observados ao longo da última semana os piores combates desde que um cessar-fogo foi assinado há cinco meses, após os rebeldes anunciarem uma ofensiva que Kiev diz equivaler a um repúdio total da trégua.

A Otan e Kiev acusam a Rússia de enviar milhares de soldados para apoiar o avanço dos rebeldes com armas pesadas e tanques. Moscou nega que esteja diretamente envolvida no confronto.

Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia concordaram em uma reunião de emergência na quinta-feira (29) em prorrogar por mais seis meses as sanções econômicas contra a Rússia, que estavam marcadas para expirar em breve. Washington também prometeu aumentar suas próprias sanções, o que tem ajudado no agravamento de uma crise econômica na Rússia.

A chegada de dois negociadores rebeldes em Minsk tinha sido o primeiro sinal de uma reabertura das negociações desde que os rebeldes lançaram sua mais recente ofensiva.

Mas nem Kiev nem Moscou confirmaram que eles estavam dispostos a negociar, e um dos representantes rebeldes, Denis Pushilin, rapidamente anunciou seu retorno a Moscou. Ele disse que os separatistas estavam dispostos a pressionar sua ofensiva e a tomar mais território caso as cidades sob seu controle continuassem a sofrer com ataques de artilharia.

"Se o bombardeio recomeça, então nos reservamos o direito de continuar a ofensiva, indo em direção às fronteiras das regiões de Donetsk e Luhansk", disse ele, referindo-se às duas províncias em que os separatistas proclamaram "repúblicas populares".

O Ministério das Relações Exteriores ucraniano disse que estava pronto para participar de negociações nesta sexta ou sábado, mas estava à espera de um entendimento sobre primeiras versões para os documentos de acordo. (Reportagem adicional de Natalia Zinets em Kiev)