ANP diz que Petrobras responderá por causas de explosão em petroleira

Marta Nogueira e Jeb Blount

No Rio

A Petrobras, como operadora dos campos Camarupim e Camarupim Norte, é a responsável por responder pelas ocorrências na área, assim como pela explosão da plataforma Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, afretada pela estatal da norueguesa BW Offshore, afirmou ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), por meio de sua assessoria de imprensa.

A autarquia informou ainda nesta quinta-feira (12), por meio de sua assessoria de imprensa, que foi aberto um processo administrativo de investigação para verificar as causas da explosão, indicando que é a operadora da área petrolífera e não a operadora da plataforma quem responde por acidentes.

A explosão levou a presidente da República Dilma Rousseff a emitir um nota pouco comum nesta quinta-feira para reforçar que a assistência aos trabalhadores é de responsabilidade da empresa estrangeira.

"A Petrobras irá cuidar para que a BW preste toda a assistência às famílias envolvidas", disse a Presidência da República em nota. Procurada, a Petrobras não respondeu imediatamente pedidos de comentários sobre o assunto.

O acidente, que deixou outros quatro desaparecidos e dez feridos, ocorreu apenas alguns dias depois de Aldemir Bendine assumir a presidência-executiva da estatal, em substituição a Maria das Graças Foster, que renunciou em meio ao escândalo de corrupção decorrente das investigação da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Bendine assumiu o posto após indicação da presidente Dilma.

A companhia BW Offshore afirmou nesta quinta-feira que todos os cinco trabalhadores mortos na explosão na plataforma no Brasil eram seus funcionários. Segundo o porta-voz da BW Offshore, Torfinn Buaroey, a "grande maioria" dos trabalhadores da FPSO Cidade de São Mateus era formada por brasileiros. Não havia noruegueses a bordo, acrescentou ele à Reuters.

Entretanto, para o Palácio do Planalto, segundo uma fonte ouvida pela Reuters, não havia ficado claro o suficiente nas explicações prestadas pela Petrobras que a operação do navio plataforma era de responsabilidade da BW Offshore.

Para a ANP, quem responde por ocorrências no campo é a operadora da área petrolífera, ou seja, a Petrobras. O coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, que ocupou a cadeira do Conselho de Administração da Petrobras em 2013, criticou a iniciativa da Petrobras de afretar navios.

"Não vou dizer que a Petrobras teria mais força para evitar um acidente como esse, mas o fato concreto é que a Petrobras e os sindicatos que representam seus funcionários têm mecanismos de cobrança de práticas de segurança muito fortes", afirmou.

A Petrobras declarou anteriormente que está dando apoio à empresa operadora da plataforma e que está prestando toda a assistência aos seus funcionários e familiares. A Cidade São Mateus, com foco maior na produção de gás, tem uma importância relativamente pequena para a Petrobras.

A unidade operava a cerca de 40 km da costa, segundo a ANP, e produzia cerca de 2,25 milhões de metros cúbicos por dia de gás, equivalente a aproximadamente 3% da produção de gás da Petrobras em dezembro.

Camarupim é operado pela Petrobras, que tem 100% da concessão. Já Camarupim Norte é operado pela Petrobras, com 65%, em parceria com a brasileira Ouro Preto Energia, que detém os demais 35%.

Preocupação no exterior

As declarações da Presidência da República podem não ser bem vistas em um momento em que a petroleira sinaliza depender mais da contratação de empresas estrangeiras em suas operações, já que 23 fornecedoras brasileiras estão impedidas de fechar novos negócios com a estatal, por conta das investigações da Lava Jato.

Além disso, a construção de algumas plataformas próprias da Petrobras em estaleiros brasileiros está comprometida, em meio a problemas financeiros de companhias fornecedoras e também de impasses gerados pelas denúncias de corrupção.

O afretamento de novas plataformas, diante da Lava Jato, pode ser uma solução para evitar atrasos no crescimento da produção, apesar de executivos da companhia já terem afirmado que os investimentos e a curva de produção previstos serão menores que o programado anteriormente.

Em comunicado enviado no fim de dezembro, a petroleira afirmou que buscará fornecedores para garantir procedimentos competitivos o que poderá, eventualmente, envolver estrangeiras.

Vítimas

As quatro pessoas que ainda estão desaparecidas estão na área mais afetada pela explosão, segundo informações de Benito Ciriza, vice-presidente de projetos de modificação da BW Offshore.

O número de mortos subiu para cinco. Entre elas está um estrangeiro de nacionalidade não divulgada. "Os nomes, tanto dos sobreviventes quanto dos mortos, não serão divulgados por hora por respeito às vítimas e às famílias", afirmou Ciriza.

O cirurgião geral Claudio Pinheiros, diretor clínico do Vitória Apart Hospital, disse que, por eles terem recebido atendimento rápido, as chances deles se recuperarem aumenta em um terço, mas ainda não é possível falar sobre alta dos feridos que estão na UTI.

Veja onde fica Araracruz:

Arte/UOL

Alto risco

Segundo o inspetor de equipamento Gerson Pistori, especialista em segurança de plataformas, que presta serviços para Petrobras há 13 anos, o navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus era classificado como um local de alto-risco por operar com gás. Ele acredita que o mais provável é que o acidente tenha ocorrido em uma área restrita da plataforma.

"As plataformas são todas setorizadas, poucas pessoas têm acesso a área da casa de bombas. O grosso do pessoal deveria estar em uma área longe do acidente, já que estão conseguindo fazer resgate aéreo e por baleeiro (navio específico para resgates em alto mar)", afirma.

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