Com cenário adverso, Petrobras corta investimentos em 24,5% no plano 2015-19

  • PAULO WHITAKER

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A Petrobras reduziu os investimentos previstos para o período 2015-2019 em 24,5 por cento, para 98,4 bilhões de dólares, com a companhia priorizando projetos de maior retorno e minimizando gastos em empreendimentos que pode vender, em meio a um cenário de preços do petróleo mais baixos e de fraqueza do real frente ao dólar.

A petroleira informou nesta terça-feira que, dos 32 bilhões de dólares que foram cortados em relação ao plano de negócios publicado em junho de 2015, 21,2 bilhões são referentes a "otimização do portfólio de projetos" e 10,7 bilhões devido ao efeito cambial nos aportes.

O corte drástico de investimentos ocorre também em um momento em que os preços do petróleo acumulam queda de quase 20 por cento apenas nos primeiros dias deste ano, registrando mínimas de mais de uma década, enquanto do dólar é cotado acima de 4 reais, com impacto na dívida da companhia denominada em moeda estrangeira.

"A gente está tendo que trabalhar em um cenário cada vez mais adverso, quando a gente faz o cálculo, o cenário já piorou, mas a empresa está bastante realista nesses cálculos", afirmou à Reuters uma fonte diretamente ligada ao assunto.

Segundo a fonte, que preferiu ficar no anonimato, as mudanças no plano foram discutidos pelo Conselho de Administração na última reunião de 2015.

Entretanto, foram feitos diversos questionamentos sobre o andamento de projetos, e os novos valores apenas foram publicados agora, quando houve um consenso sobre todas as decisões.

Durante as festas de final de ano e o começo de 2016, houve uma intensa troca de mensagens entre conselheiros e diretoria, principalmente sobre a rentabilidade de projetos e critérios de cálculos, explicou a fonte, sem entrar em detalhes sobre os ativos.

Para a revisão atual do plano, a empresa decidiu reduzir o ritmo de alguns projetos que estão no plano de desinvestimentos e suspender temporariamente outros.

"Se é um projeto que a empresa vai vender, é claro que a empresa não vai acelerar, tende a alongar (a realização)", afirmou a fonte, sem entrar em detalhes.

Os desinvestimentos para o biênio 2015-2016 foram mantidos em 15,1 bilhões de dólares, tendo atingido o montante de 700 milhões no ano passado.

A nova versão do plano de negócios considera um preço médio para o petróleo Brent de 45 dólares em 2016, ante projeção anterior de 55 dólares, e uma taxa de câmbio média no ano de 4,06 reais por dólar, ante 3,80 reais anteriormente.

"Estes ajustes visam a preservar os objetivos fundamentais de desalavancagem e geração de valor para os acionistas... à luz dos novos patamares de preço do petróleo e taxa de câmbio", apontou a Petrobras.

Com a maior dívida detida por uma petroleira no mundo, a Petrobras não trouxe novas informações sobre metas de alavancagem.

A fonte destacou que a empresa está fazendo revisões trimestrais do plano de negócios e uma nova revisão deverá ser discutida entre março e abril deste ano.

As ações preferenciais e ordinárias da Petrobras registravam queda de mais de 7 por cento às 13h53, enquanto o Ibovespa recuava 0,86 por cento.

A corretora Brasil Plural avaliou que os novos números apresentados pela Petrobras para o Plano de Negócios 2015-2019 são mais realistas, bem como é positiva a pronta resposta da direção às mudanças no mercado.

"Nós gostamos da resposta rápida da nova direção às mudanças no mercado... consideramos a reação negativa no mercado injustificada, pelo menos em relação ao novo plano", afirmou a equipe da Brasil Plural em nota a clientes.

EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO

Os investimentos da Petrobras previstos para a área de Exploração e Produção no período 2015-2019 sofreram corte de 26 por cento, ante o plano inicial, para 80 bilhões de dólares, ou 81 por cento do total previsto atualmente.

Na projeção de junho, a empresa previa investir 108,6 bilhões de dólares no segmento, que é o coração da empresa, o que representava 83 por cento do total.

Os ajustes na carteira de investimentos resultaram em uma redução da projeção de produção de petróleo no Brasil.

Em 2016, a empresa prevê produzir 2,145 milhões de barris por dia (bpd), ante 2,185 milhões bpd previstos anteriormente. Já para 2020, a empresa prevê produção de 2,7 milhões de bpd, ante os 2,8 milhões bpd anunciados em junho.

Já a unidade de Abastecimento deverá investir 10,9 bilhões de dólares, seguida por Gás e Energia, com 5,4 bilhões, e pelas demais áreas, com 2,1 bilhões de dólares.

A Petrobras informou ainda que atingiu uma produção média de petróleo de 2,128 milhões de bpd no país em 2015, ante 2,125 milhões estimados no plano de negócios.

Segundo a companhia, a produção de 2015 "representa o recorde anual histórico de produção de óleo da companhia, superando o recorde alcançado em 2014".

Quando anunciou seu plano de negócios inicial em junho, a Petrobras havia apresentado uma queda de 40 por cento em relação ao plano de negócios anterior.

Na ocasião, a empresa já sofria com a queda dos preços do petróleo e também por ter sido atingida pelo escândalo de corrupção investigado pela operação Lava Jato, da Polícia Federal, com impactos financeiros e na cadeia de prestadores de serviços.

Na revisão desta terça-feira, a empresa não mencionou impactos relacionados à Lava Lato.

(Por Marta Nogueira e Luciano Costa)

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