Atraso no fim do El Niño deve beneficiar lavouras de milho do Brasil, diz especialista

Por Gustavo Bonato

SÃO PAULO (Reuters) - Uma mudança no padrão dos ventos no oceano Pacífico deverá alterar o deslocamento das águas mais quentes e atrasar em quatro a seis semanas o declínio do fenômeno climático El Niño, beneficiando as lavouras da segunda safra de milho no Brasil, disse nesta sexta-feira um especialista da consultoria Lanworth.

"Sem os dois ciclones tropicais que ocorreram no Pacífico veríamos uma queda muito mais rápida no El Niño. No longo prazo, isso empurra a janela de clima favorável para lavouras na América do Sul por quatro a seis semanas", afirmou à Reuters o analista climático Adam Turchioe, da Lanworth, em Chicago.

A duração da janela de chuvas de verão tem sido uma grande preocupação de produtores de milho em Estados como Mato Grosso, onde o cereal é semeado logo após a colheita de soja.

O objetivo dos agricultores sempre é conseguir antecipar o calendário da soja para que o desenvolvimento do milho ocorra antes do fim do período de chuvas. A tensão ocorre neste ano porque uma seca inesperada atrasou o plantio da soja em setembro e outubro, empurrando também a janela de cultivo do cereal.

A previsão de Turchioe é de tempo chuvoso em março e abril no país.

"Esse El Niño prolongado e outras variáveis atmosféricas que estamos analisando vão ajudar... No curto prazo, os próximos dias parecem mais secos. Mas o tempo fica mais chuvoso a partir da última semana de fevereiro e início de março", disse o especialista, ponderando, contudo, que a previsão para maio ainda é incerta.

Um fenômeno parecido ocorreu no ano passado, quando também havia inicialmente incertezas sobre a janela de chuvas para o chamado "milho safrinha". Contudo, o período de chuvas prolongou-se além do esperado em 2015, garantindo excelentes produtividades no Centro-Oeste.

"Analisei dados dos últimos 35 anos e o ano com mais correlação com o atual realmente é 2015", afirmou Turchioe.

O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) informou nesta sexta-feira que a área plantada com a segunda safra de milho dobrou na última e já alcança 11 por cento do total previsto. Ainda assim, está 1,7 ponto percentual atrás do registrado na mesma época de 2015.

LA NIÑA

Turchioe disse que os meteorologistas analisam ainda a tendência climática de médio e longo prazo, após o declínio no El Niño, para saber se o planeta entrará numa fase neutra ou se passará para o fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento da superfície do Pacífico.

"Ainda estamos fazendo pesquisa. No momento parece muito mais provável que vamos para La Niña do que para clima neutro", afirmou.

No caso de La Niña, a próxima safra na América do Sul, em 2016/17, deverá ter um clima mais seco e quente, especialmente na Argentina e no Sul do Brasil, o que pode prejudicar as produtividades das lavouras.

Por outro lado, quando há uma transição de El Niño para La Niña, há clima mais quente e seco também no Estados Unidos, principais competidores do Brasil no mercado internacional de grãos.

"Isso pode acontecer agora na safra 2016. Há risco de algumas regiões terem tempo mais quente e seco no centro e no leste dos EUA. Mas vamos ter uma noção mais clara à medida que o verão do Hemisfério Norte se aproxima", completou o analista.

A Lanworth é um serviço da Thomson Reuters Commodities Research and Forecasts.

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