PF investiga obras de ferrovias Norte-Sul e Leste-Oeste em desdobramento da Lava Jato

  • Por Pedro Fonseca

Por Pedro Fonseca

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Federal lançou operação nesta sexta-feira para investigar o suposto pagamento de propina por parte de várias empreiteiras envolvidas na construção das ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste, com desvio de ao menos 630 milhões de reais, em um desdobramento de apurações da Lava Jato, informou a polícia em comunicado.

A operação, chamada "O Recebedor", tem como base elementos fornecidos em acordo de leniência e delação premiada fechado pela empresa Camargo Corrêa com o Ministério Público Federal de Goiás em colaboração com a força-tarefa da Lava Jato, no qual a empreiteira confessou a prática de cartel, corrupção, lavagem de dinheiro e crimes de licitação, além de se comprometer a restituir 800 milhões de reais aos cofres públicos.

Desse total, 65 milhões de reais serão destinados a ressarcir danos causados à Valec, estatal responsável pelas ferrovias, de acordo com o MPF.

"As diligências que estão sendo realizadas nesta sexta-feira têm por objetivo recolher provas de pagamentos de propina a ex-diretores da Valec, por empreiteiras contratadas para construir as ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste, da prática de cartel e lavagem de dinheiro, revelados pela Camargo Corrêa", disse o MPF em comunicado.

Em seu acordo de leniência, a Camargo Corrêa entregou provas documentais e testemunhais contra outras empreiteiras integrantes do esquema de corrupção, bem como contra o ex-presidente da Valec José Francisco das Neves, um dos alvos da operação desta sexta, segundo o MPF.

De acordo com os procuradores, a empreiteira admitiu ter pago mais de 800 mil reais em propina apenas para Neves, conhecido como Juquinha.

As investigações apontam que as empreiteiras realizavam pagamentos regulares, por meio de contratos falsos, a um escritório de advocacia e a duas empresas de Goiás que eram utilizadas como fachada para recebimento de dinheiro proveniente de fraudes em licitações públicas.

Segundo a PF, foram expedidos sete mandados de condução coercitiva e 44 mandados de busca nos Estados do Paraná, Maranhão, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Goiás, além do Distrito Federal. Os suspeitos são acusados dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

"Somente no Estado de Goiás, foi detectado um desvio da ordem de mais de 630 milhões de reais, considerando-se somente os trechos executados na construção da Ferrovia Norte-Sul", disse a Polícia Federal em comunicado.

DIVERSAS CONSTRUTORAS

Como parte da operação, policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão em um prédio da Odebrecht no Rio de Janeiro e, em São Paulo, também foram alvo da operação as construtoras Queiroz Galvão, Mendes Júnior, OAS, Galvão Engenharia, Constran e Serveng.

"As buscas visam a recolher provas do pagamento de propina para a construção das ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste, bem como da prática de cartel e lavagem do dinheiro ilícito obtido por meio do superfaturamento de obras públicas", acrescentou a polícia.

Em curto comunicado publicado em sua página na Internet, a atual diretoria da Valec disse que não foi notificada sobre a operação da PF e afirmou desconhecer os fatos citados. "As investigações são direcionadas a uma gestão anterior", acrescentou a empresa.

A ferrovia Norte-Sul, concebida na década de 1980 ainda no governo José Sarney, será o principal eixo logístico de integração ferroviária do país, ligando as regiões produtoras de grãos no Centro-Oeste do país aos portos da região Norte, bem como à malha ferroviária do Sul e Sudeste, ampliando as opções de escoamento até os portos.

As obras da ferrovia foram retomadas no governo Lula e seguem até os dias de hoje.

A integração Leste-Oeste, conhecida como Fiol, será uma espécie de “braço” ligando a Norte-Sul ao porto de Ilhéus, na Bahia), com mais de 1,5 mil quilômetros de extensão. As duas ferrovias se conectam na altura do município de Figueirópois, em Tocantins.

(Reportagem adicional de Leonardo Goy, em Brasília)

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