Mestre das planilhas de votação, Padilha tem fidelidade como marca

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - Há quase 20 anos, o novo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, podia ser visto nas laterais do plenário da Câmara com algumas dezenas de folhas de papel. Ali, anotado à mão, estava cada voto que cada deputado daria --e raramente o então deputado federal pelo PMDB do Rio Grande do Sul errava.

As planilhas evoluíram do papel para o computador e o tablet, e Padilha, de deputado federal em primeiro mandato para homem forte do partido e ministro da Casa Civil.

Nascido em Canela, na serra gaúcha, Padilha, 70 anos, fundou o PMDB da cidade e nunca mais saiu do partido. De família pobre, foi engraxate, fez faculdade de Direito e começou a ganhar dinheiro com empreendimentos no litoral. Seu primeiro cargo público foi de prefeito de Tramandaí, na época o maior município do litoral gaúcho. De lá, foi eleito pela primeira vez deputado federal.

Casado pela terceira vez, pai de seis filhos --a mais nova, Elena, com pouco mais de 1 ano é o xodó do pai-- Padilha tem hoje um dos maiores escritórios de advocacia do Rio Grande Sul, além de negócios ainda no litoral gaúcho. De menino engraxate e vendedor de verduras, transformou-se em um homem rico e alvo de dezenas de boatos. Até hoje, no entanto, nada pegou no ministro.

Dos homens fortes de Temer, é um dos únicos --além de Moreira Franco-- a não ser sido citado na Lava Jato.

Em 2007, uma investigação da Polícia Federal, a operação Solidária, acusou o ministro de tráfico de influência e fraudes em licitação, mas até hoje não deu em nada.

A habilidade de ler o Congresso e adivinhar para qual o lado a onda vai aproximou Padilha de Michel Temer, Fernando Henrique Cardoso --de quem foi ministro dos Transportes--, e da própria Dilma Rousseff, enquanto esteve em seu governo.

“A diferença é que ele é uma pessoa que estuda. Ele não faz nada de maneira superficial. E mais do que tudo, ele sabe ouvir”, diz o deputado Alceu Moreira, (PMDB-RS), que herdou de Padilha a base no litoral gaúcho.

LIGAÇÃO COM A CÚPULA

Durante seus anos na Câmara dos Deputados, Padilha se aproximou da cúpula do partido, especialmente de Temer, então presidente da Casa, o que o transformou em um elemento estranho no PMDB gaúcho. Liderados pelo ex-senador Pedro Simon, os peemedebistas gaúchos se vêem como uma ala ética do partido, e mantêm independência em relação ao PMDB nacional.

Sem espaço no Estado, Padilha conquistou terreno na Executiva Nacional e na proximidade com Temer.

“Aqui ele é minoritário, o lado que ele está sempre perde”, disse à Reuters um antigo peemedebista gaúcho. “O que ele tem é uma turma dele, que ajuda a eleger e apadrinha. Mas não tem espaço nas decisões.”

Nas últimas eleições, Padilha apoiou a reeleição de Dilma Rousseff e Michel Temer, à revelia do PMDB gaúcho, que esteve primeiro com Eduardo Campos e Marina Silva (PSB) e depois, com Aécio Neves. Fiel à decisão da Executiva Nacional, tentou virar o voto dos gaúchos, mas sem sucesso.

“Ele tem optado pelo PMDB nacional. Mas as diferenças são pontuais”, minimiza o deputado estadual Ibsen Pinheiro, um dos decanos do partido no Estado e presidente da Câmara dos Deputados na época do impeachment de Fernando Collor de Mello.

A fidelidade é outra palavra usada para descrever o peemedebista. Padilha foi o primeiro a abandonar o ministério de Dilma Rousseff, oficialmente por ter sido preterido em uma indicação para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Na verdade, pela péssima relação da presidente com Michel Temer, de quem tomou as dores.

Até o rompimento, no entanto, Padilha era fiel também à presidente. Foi um dos responsáveis por segurar a ala separatista do PMDB e evitar que o Congresso, em novembro do ano passado, elevasse o tom e partisse para um rompimento antecipado.

No último dia de setembro, pouco antes de deixar sua sala no Palácio do Planalto, onde passara os últimos meses ajudando Michel Temer na coordenação política, Padilha pediu uma última tarefa às secretárias: que imprimissem as centenas de páginas das suas planilhas para serem entregues a Ricardo Berzoini, que assumiria dali a alguns dias a Secretaria de Governo.

Ali estavam cada deputado, senador, seus afilhados políticos, suas indicações no governo, o que ajudou o governo de Dilma Rousseff a navegar pelo Congresso nos meses seguintes.

Irritado com o desprezo de Dilma por Temer e pelo PMDB, no entanto, Padilha passou para o outro lado e entrou de cabeça na articulação do vice-presidente pelo impeachment. Ele, com o senador Romero Jucá (RR), Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães, e o ex-deputado Geddel Vieira Lima se transformaram na tropa de choque do PMDB.

No dia da votação da admissibilidade do impeachment pela Câmara dos Deputados, Padilha dizia a quem perguntava qual era sua previsão: de 365 a 368 votos contra o governo. As planilhas mais uma vez haviam funcionado. Foram 367 votos a favor do impedimento de Dilma.  

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