Com califado encolhendo, Estado Islâmico busca atacar globalmente

Stephen Kalin e Ahmed Tolba

Em Bagdá e Cairo

  • Reprodução/Twitter

    Terroristas que participaram de ataque à igreja, na França

    Terroristas que participaram de ataque à igreja, na França

O Estado Islâmico, que está perdendo território na Síria e no Iraque, reivindicou a autoria de uma série de ataques militantes em vários cantos do mundo recentemente, principalmente na França e na Alemanha.

A série de ataques ocorreu após um apelo para que os combatentes atacassem o Ocidente durante o mês sagrado do Ramadã, em junho e julho, em uma aparente mudança de estratégia por parte do grupo jihadista, que está sendo combatido há dois anos por bombardeios da coalizão liderada pelos Estados Unidos e também vê o avanço das forças locais em solo.

Mas em vez de pedir para os combatentes viajarem para o auto-proclamado califado, o grupo os está encorajando a agir localmente, com os meios que tiverem disponíveis.

"Se os tiranos fecharem as portas da imigração nas vossas caras, então abram as portas da jihad na cara deles e façam com que suas ações se voltem contra eles mesmos", sugere um áudio supostamente gravado pelo porta-voz do grupo, Abu Muhammad al-Adnani, referindo-se aos esforços dos governos ocidentais para impedir que os militantes viajem para se juntar ao grupo no Oriente Médio.

Militantes responderam a isso com atos nos últimos dois meses, em países que fazem parte da coalizão que está atacando o Estado Islâmico. Eles atiraram em pessoas em uma boate da Flórida, atropelaram uma multidão com um caminhão na Riviera Francesa e atacaram com um machado usuários de um trem perto de Munique.

Caminhão acelera sobre multidão no sul da França; veja momento

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Os autores dos ataques tinham vários níveis distintos de conexão com os jihadistas do Oriente Médio. Alguns tentaram viajar para a Síria e estavam sob vigilância das autoridades, enquanto outros tinham demonstrado poucos sinais de radicalismo até praticarem os atos.

"Há um entendimento crescente de que a ideia de um califado está morrendo e mais e mais a liderança está pedindo que combatentes estrangeiros nem viajem ao Iraque ou à Síria, mas que se organizem para cometer violência localmente", afirmou Max Abrahms, professor da Northeastern University, em Boston, e estudioso de grupos extremistas.

Autoridades e especialistas em segurança no Oriente Médio e no Ocidente preveem que a campanha militar contra o grupo no Iraque e na Síria inviabilizará o califado, mas ao fazer isso aumenta o risco de ataques em outros cantos do mundo.

Bulent Kilic/AFP
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Lobo solitário

Há mais de um mês, os partidários do Estado Islâmico nas redes sociais estão encorajando os "lobos solitários" a atacar o Ocidente com métodos que vão desde sofisticadas explosões e tiroteios ao improviso de esfaqueamentos e até agressões físicas.

"Jurem lealdade secretamente ou em público ao (líder do Estados Islâmico) Abu Bakr al-Baghdadi, e cada um de vós será um soldado do califado, idênticos àqueles que estão presentes no Estado Islâmico", afirmou um partidário.

Ao assumir a autoria de alguns ataques recentes, militantes referiram-se às palavras de Adnani.

Os militantes "realizaram a operação em resposta aos pedidos para atingir cidadãos dos países que fazem parte da coalizão que combate o EI" no Iraque e na Síria, afirmaram comunicados emitidos após quatro incidentes na Europa neste mês.

Na França, um ataque com um caminhão matou 84 pessoas em pleno Dia da Bastilha, em Nice, e um ato em uma igreja terminou na morte de um padre católico na Normandia. Na Alemanha, o ataque com machados e um homem-bomba deixaram 20 feridos no total.

A maioria dos agressores ecoou a retórica de Adnani e encorajou outros combatentes a imitá-los durante mensagens gravadas em que assumiam os ataques.

"Irmãos, usem uma faca, o que for necessário. Ataquem, matem em massa", disse Abdel Malik Petitjean, um dos dois homens que mataram o padre no norte da França, na semana passada.

"Se vocês não conseguirem viajar para o Levante (Síria), então lutem contra os exércitos apóstatas em suas nações", afirmou Muhammad Riyad, o refugiado afegão de 17 anos que realizou o ataque com o machado em um trem na Bavária.

Deve piorar

Enquanto perde força militar, o Estado Islâmico está tentando cometer atos de violência em qualquer lugar do mundo, disse Abrahms. O grupo está inclusive assumindo a autoria de ataques cujos idealizadores tinham tênues ligações com o califado.

"É indiscriminado quem pode ser um soldado do califado. É indiscriminado quais ataques o grupo vai reivindicar", explicou.

Nos últimos 18 meses, o EI perdeu um quarto das terras que tomou do Iraque e da Síria em 2014, informou neste mês a empresa de pesquisa IHS. Outras contas colocam o número próximo a 50%.

Autoridades iraquianas prometeram retomar o controle de Mosul ainda neste ano, mas os militantes ainda devem manter alguns redutos em áreas desérticas e apostar em táticas de insurgência mais tradicionais.

O diretor do FBI James Comey disse nesta semana que ele espera um aumento nos ataques nos EUA e na Europa em caso de derrota do EI, da mesma forma que a Al Qaeda se formou a partir de insurgentes que se radicalizaram na década de 80 no Afeganistão.

(Reportagem adicional de Lin Noueihed, Mostafa Hashem e Omar Fahmy no Cairo)

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