BC do Japão muda foco e determina meta para rendimento de títulos públicos

Por Leika Kihara e Stanley White

TÓQUIO (Reuters) - O Banco do Japão fez uma mudança abrupta nesta quarta-feira e adotou como foco a taxa de juros de títulos do governo buscando alcançar sua meta de inflação, após anos de forte impressão de dinheiro que não tirem efeito para tirar a economia de décadas de estagnação.

Embora o banco central japonês tenha garantido aos mercados que continuará comprando grandes quantidades de títulos e ativos de maior risco, a reformulação da política monetária parece abrir a porta para eventual fim de suas compras de ativos e tenta reparar parte do dano provocado por sua decisão de adotar taxa de juros negativa.

"A impressão é de que o Banco do Japão está começando a retirar parte de suas tropas da linha de frente", disse o estrategista-sênior de renda fixa do Mitsubishi UFJ Morgan Stanley Securities, Katsutoshi Inadome.

Os esforços cada vez mais radicais do banco central do Japão estão sendo acompanhados de perto por outros bancos centrais, que também encontram dificuldades para reanimar o crescimento, como o Banco Central Europeu (BCE). Muitos investidores temem que eles já tenham quase esgotado os limites do que a política monetária pode fazer, colocando a pressão de volta sobre os governos para aumentar os gastos.

Ao determinar metas de juros para depósitos em dinheiro em excesso de instituições financeiras e bônus governamentais de 10 anos, o Banco do Japão parece exercer controle sem precedentes sobre os juros no mercado de títulos para tentar levar vida à terceira maior economia do mundo.

As ações japonesas subiram quase 2 por cento após a decisão, o que pode aliviar a pressão sobre o lucro dos bancos e seguradores provocada pelos juros ultrabaixos, embora analistas duvidem que o impacto atinja muito a economia mais ampla.

Em uma tentativa de acalmar o nervosismo do mercado, o Banco do Japão manteve a taxa de juros negativa em 0,1 por cento que aplica a alguma das reservas excessivas que as instituições financeiras deixam no banco central e informou que continuará comprando títulos do governo no ritmo atual por enquanto.

Mas abandonou a meta explícita de elevar a base monetária, volume de dinheiro que imprime, a um ritmo anual de 80 trilhões de ienes (788 bilhões de dólares), no que alguns analistas disseram ser uma admissão tácita de que seu programa de compra de ativos estava se tornando insustentável.

Segundo a nova estrutura, o banco central comprará títulos governamentais de longo prazo conforme necessário para manter os rendimentos dos bônus de 10 anos em torno dos níveis atuais de zero por cento.

O Banco do Japão informou que, ao ter como meta diretamente as taxas de curto e longo prazo, pode reduzir com mais eficiência os custos de empréstimo enquanto permite alta nos rendimentos bem mais longos, o que pode ajudar as empresas como seguradoras a dar aos pensionistas melhores retornos de investimento.

"Os bancos centrais já têm adotado medidas para influenciar diretamente as taxas de longo prazo (através de compras de bônus). O Banco do Japão tem feito isso também e claramente tem tido sucesso", disse o presidente do banco central, Haruhiko Kuroda, em entrevista à imprensa.

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