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Preocupados com Trump, refugiados caminham no frio para o Canadá

Placa sinaliza a pequena cidade de Emerson, na província canadense de Manitoba, próximo do ponto da fronteira entre EUA e Canadá que refugiados têm cruzado à pé - Lyle Stafford/Reuters
Placa sinaliza a pequena cidade de Emerson, na província canadense de Manitoba, próximo do ponto da fronteira entre EUA e Canadá que refugiados têm cruzado à pé Imagem: Lyle Stafford/Reuters

Em Winnipeg (Canadá) e Buffalo (EUA)

06/02/2017 21h14

Refugiados nos Estados Unidos com medo de um pior clima de xenofobia depois da desagregadora campanha presidencial no país estão indo para o Canadá em números cada vez maiores.

A agência de refugiados Welcome Place em Manitoba ajudou 91 pessoas entre 1º de novembro e 25 de janeiro, mais do que a organização normalmente faz em um ano. Muitos enfrentaram o inverno congelante para caminhar até o Canadá.

"Nós não havíamos tido algo assim antes", disse Maggie Yeboah, presidente da União Ganense de Manitoba, que tem ajudado refugiados no acesso à atenção médica e à moradia. "Não sabemos o que fazer."

Uma ordem temporária de um juiz norte-americano restringido o decreto do presidente Donald Trump bloqueou nacionalmente a implementação de partes da proibição de viagens e propiciou uma brecha para refugiados que tentam chegar aos EUA.

No entanto, organizações canadenses estão se preparando para um fluxo maior de pessoas buscando asilo, alimentado em parte pelo contraste entre a aceitação de refugiados sírios pelo atual governo liberal canadense e a retórica anti-estrangeiros de Trump.

6.fev.2017 - Lado canadense do ponto na fronteira entre Canadá e EUA que refugiados têm cruzado à pé, em Emerson, província de Manitoba - Lyle Stafford/Reuters - Lyle Stafford/Reuters
Lado canadense do ponto na fronteira entre Canadá e EUA que refugiados têm cruzado à pé, em Emerson, província de Manitoba
Imagem: Lyle Stafford/Reuters

"Eles vão correr para o Canadá, mesmo enfrentado tempo frio, morrendo ou não", afirmou Abdikheir Ahmed, imigrante somali na capital de Manitoba, Winnipeg, que dá ajuda a refugiados a dar entrada nos seus pedidos.

Desde o último verão (inverno no Hemisfério Sul), 27 homens de Gana andaram dos EUA até Manitoba, disse Maggie Yeboah. Dois perderam todos os seus dedos por causa do frio em dezembro e quase morreram congelados.

Mais de 7 mil pessoas buscando o status de refugiado entraram no Canadá em 2016 por terra, pelos postos de fronteira, vindas dos EUA, 63 por cento a mais do que no ano anterior, segundo a agência de fronteira canadense.

Mais de 2.000 entraram "irregularmente", durante um intervalo de tempo similar, sem autorização oficial.

"A campanha presidencial dos EUA, chamando a atenção para imigrantes e refugiados sem documentos, os aterrorizou", disse Ghezae Hagos, da Welcome Place. "A eleição e a posse de Trump parecem ser a razão final para os que vieram no mês passado."

6.fev.2017 - A refugiada somali Lyann Mohammed, 19, passa por entrevista no Welcome Place em Winnipeg, no Canadá - Lyle Stafford/Reuters - Lyle Stafford/Reuters
A refugiada somali Lyann Mohammed, 19, passa por entrevista no Welcome Place em Winnipeg, no Canadá
Imagem: Lyle Stafford/Reuters

Muitas das pessoas que entram irregularmente viriam pelos postos de fronteira, dizem ativistas, se o Canadá não tivesse uma política de recusar muitas delas. Um acordo de 2004 entre canadenses e norte-americanos exige que as pessoas peçam o asilo no primeiro dos dois países em que chegarem.

Ativistas afirmam que o acordo acaba incentivando as pessoas a entrar de forma perigosa no Canadá. Se o governo não abandonar esse acordo, eles dizem, pode acabar sendo processado.

Em Buffalo, nos EUA, centenas de pessoas passam pela organização Vive, um abrigo que ajuda os que buscam o status de refugiado no Canadá.

O número de pessoas atendidas pela organização, que inclui refugiados e gente que tem morado há muito tempo nos EUA, aumentou no último verão e tem se mantido consistente desde então, representando duas ou três vezes mais do que o visto um ou dois anos atrás.

"O pessoal está definitivamente assustado com os decretos de Trump", afirmou Mariah Walker, da Vive.