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Índices de mortalidade infantil e materna e casos de malária e zika explodem na Venezuela

RONALDO SCHEMIDT/AFP
Imagem: RONALDO SCHEMIDT/AFP

Alexandra Ulmer

Em Caracas

09/05/2017 17h47

Dados divulgados pelo governo venezuelano mostram que a mortalidade infantil no país subiu 30% no ano passado, a mortalidade materna aumentou 65% e os casos de malária cresceram 76%. Os números refletem como a profunda crise econômica atingiu a saúde dos cidadãos.

As estatísticas, publicadas no site do Ministério da Saúde após quase dois anos de silêncio sobre dados estatais, também mostraram um salto em doenças como a difteria e zika. Não está claro quando os dados foram publicados no site, mas a imprensa local afirma que eles foram divulgados nesta terça-feira (9).

A recessão e o controle de moeda no país governado por Nicolás Maduro reduziram a produção local e as importações de produtos estrangeiros, e os venezuelanos estão enfrentando escassez de tudo, desde arroz até vacinas. A oposição tem organizado protestos nas últimas contra o chavismo e pedindo a realização de novas eleições.

No setor de saúde, os médicos estão deixando o país em massa e os pacientes têm de se contentar com tratamento de segunda categoria ou nenhum. Uma importante associação farmacêutica disse que cerca de 85% dos medicamentos estão quase sem estoque. Os venezuelanos costumam trocar medicamentos, fazer pedidos nas mídias sociais, viajar para países vizinhos se podem custear a viagem ou fazer filas gigantescas nas portas das farmácias.

O Ministério da Saúde não divulgava números desde julho de 2015, em meio a um apagão de dados ainda maior. Não está claro o motivo pelo qual os dados foram divulgados agora.

As estatísticas mais recentes mostram o aumento de 30% na mortalidade infantil entre crianças entre 0 e 1 ano –11.466 casos no ano passado. O relatório cita a sepse neonatal, a pneumonia, a síndrome do desconforto respiratório neonatal e a prematuridade como as principais causas.

Nos hospitais, muitas vezes faltam equipamentos básicos como incubadoras, e as mulheres grávidas estão lutando para comer de forma adequada, o que prejudica a ingestão de ácido fólico, que pode afetar a saúde do bebê.

A mortalidade materna, ou a morte durante a gravidez ou até 42 dias após o final da gravidez, também aumentou, chegando a 65,79% (756 mortes), segundo o relatório.

O Ministério da Saúde não respondeu a um pedido de informações adicionais. O governo de Maduro diz que uma elite está armazenando medicamentos para dar um golpe de Estado.

Doenças que eram controladas na Venezuela, como a difteria –uma infecção bacteriana fatal em até 10% dos casos, também aparecem nas estatísticas, afetando 324 pessoas. Não tinha sido registrado nenhum caso no último relatório. A difteria já foi uma das principais causas de morte infantil, mas é cada vez mais rara graças às imunizações. Seu retorno mostra o quão vulnerável o país está para os riscos à saúde.

Foram registrados ainda 240.613 casos de malária no ano passado, um aumento de 76,4% em relação a 2015. Os casos de zika subiram de 71 para 59.348, refletindo a disseminação do vírus transmitido por mosquitos na América do Sul. Não há dados de microcefalia ligada ao vírus, embora os médicos relatem que foram registrados casos.